Desde
há muito que a denominada economia paralela assombra as contas de muitos Estados
e tenta alcançar a carteira de muitos contribuintes. Se, por um lado, são
milhões que passam ao lado dos cofres do Estado, por outro, os trabalhadores obrigados a contribuir têm que desembolsar mais dinheiro
para colmatar os buracos do financiamento Público. Se formos consultar os dados
mais recentes para Portugal acerca desta problemática, verificamos que segundo
o Índice de Economia paralela o valor da mesma fica acima dos 26% do Produto
Interno Bruto em 2013. Um problema gravíssimo que predomina, e não parece ter
tendência para diminuir. Isto para não falar dos restantes desvios que não são
aqui contabilizados, como é o caso da economia ilegal. Mas esquecendo esse
aspecto, e debruçando-nos na economia paralela, onde consideramos todas as
actividades realizadas no país de forma legal mas que não são contabilizadas
para efeitos legais, porque será que estes valores são tão elevados?
Vejamos,
o problema é que para muitos a carga fiscal é tão significativa que lhes
compensa fugir. Pensemos, qual é o negócio que dá uma margem de 23%? Fugir ao
IVA dá 23%. A rentabilidade é tão grande que toda a gente tenta fugir do
sistema e acaba por fugir quem pode. Vamos assim de encontro a vários estudos
efectuados sobre economia paralela que demonstram que a mesma é tanto maior
quanto maior for a carga fiscal (Frey e Weck-Hanneman, 1984; Loayza, 1996;
Johnson et al., 1998; Giles, 1999;
Tanzi, 1999; Schneider, 2000 e 2005; Dell’Anno, 2003).
Devido
à alta ganância do Estado em arrecadar cada vez maiores montantes em impostos,
apenas incentiva o oposto, à fraude fiscal! Se analisarmos, por exemplo, a
evolução do IRC ao longo dos últimos anos, constatamos um aumento contínuo. Um estudo da KPMG revela que a taxa média de IRC na
Europa em 2013 é de 20,5 %, sem contar com as sobretaxas. Já no caso de
Portugal, a taxa máxima é de 31,5 %. Vejamos, em Portugal o IRC é composto pela
taxa base de 25 %, e por duas sobretaxas (a derrama municipal, com o valor
máximo de 1,5%, e a derrama estadual, de 3 % para lucros acima de 1,5 milhões
de euros e de 5 % para lucros acima de 7,5 milhões de euros). No final das
contas, podemos chegar a uma taxa de imposto de 31,5 %. Face ao exposto,
verifica-se ainda que o valor total arrecadado pelos impostos em Portugal tem
vindo a diminuir. Como exemplo, de 2010 para 2012, assistimos a uma diminuição
de mais de 14 mil milhões de euros arrecadados pelo Estado em impostos.
Não podemos ainda esquecer a regulação: se a
fiscalização fosse mais apertada será que alguém conseguia fugir aos impostos?
E sendo assim, seria necessário continuar a subir os impostos? Provavelmente, o
Estado angariaria o suficiente e não teria motivos para continuar a explorar a
classe trabalhadora! Mas quem sabe…
Tentando
não fugir muito à problemática, mas olhando de outra perspectiva, façamos agora
uma análise do porquê da continuação destas medidas que são tomadas na mesma
direcção.
O
Estado tem as suas despesas divididas em várias vertentes. Como sabemos, estas
despesas já foram reduzidas, mas será que foram reduzidas nos campos certos? A
verdade é que a despesa em percentagem do PIB realmente diminuiu e até podemos
verificar os relatórios do INE, que nos apontam que em 2010 era de 51,5% e em
2011 passou a ser de 49,4%. Uma ligeira descida após anos seguidos de aumentos
que se verificaram até 2010. Como vemos, estas políticas não têm sido muito
eficientes, pois a economia continua numa espiral decrescente.
Do
outro lado da balança temos as receitas provenientes dos impostos. Quando a
despesa é superior às receitas, recorremos aos métodos de financiamento do
Estado que são possíveis, de uma forma genérica, através da emissão de moeda,
emissão da dívida pública, venda de activos.
Como
sabemos, Portugal não tem capacidade da emissão de moeda. Restam portanto as
outras alternativas. A meu ver, a venda de activos não é uma solução de longo
prazo, pois se com a venda se consegue financiamento imediato, o activo também
deixa de estar na posse do Estado e não consegue dar mais rendimentos.
Acabando-se com todos os activos, como vai ser depois? Voltamos a comprá-los?
Quanto à emissão da dívida pública ainda estamos e estaremos a pagar a factura
bem cara! Como sabemos, os juros da dívida pública estão altíssimos e são uma
carga tremenda para o País. Com a falta de credibilidade na recuperação de um
país cada vez mais envelhecido e com a mão-de-obra qualificada a fugir,
dificilmente conseguiremos juros mais baixos! Pois como é que o País vai
produzir mais? Logo, a resolução do Estado mais conveniente é sem dúvida
recorrer aos impostos de forma a aumentar as suas receitas!
Voltamos
mais uma vez ao ponto de partida, as projecções não se verificam, o Estado não
consegue arrecadar o que pretendia e encontramos soluções cada vez mais
perversas! Pensando profundamente nos problemas actuais da conjuntura económica,
e da forte pressão que os governos atravessam para colmatar as suas dívidas, é
compreensível a sua atitude. A meu ver, aumentar os impostos é fácil e rápido!
No entanto, em Portugal não há espaço para
aumentar mais nenhum imposto. O espaço que existe é para aumentar a eficiência
e o combate à fraude.
O
que aconteceu, por exemplo, com a restauração? Com a subida do IVA de 13% para
23% assistimos ao sofrimento deste sector, com o despedimento em massa e o
fecho de muitos estabelecimentos que não suportavam todos os custos. Se os
impostos recaem sobre o rendimento e este cai, é óbvio que as receitas fiscais
também vão cair. Para não falar de outros que não fecharam mas que
provavelmente entram para a estatística da economia paralela. Após várias
tentativas fracassadas, não se percebe o porquê de insistir nas mesmas
políticas, o porquê de continuar na mesma trajectória, pois já sabemos o
resultado final.
É
verdade que nem sempre é fácil encontrar soluções, mas deveríamos procurar
outro caminho. Afinal de contas, o que deveria ser feito era incentivar as
pequenas e médias empresas a aumentarem a sua produção, a inovarem, a serem
mais competitivas, a aumentarem os postos de trabalho! Tornando esta situação
viável, o valor arrecadado pelos impostos será muito mais elevado, e não é
preciso aumentar a taxa, pois os impostos funcionam como um estabilizador
automático. Pensando seriamente em formas eficazes e não corruptas de
fiscalização, conseguem-se também reverter as situações ilícitas de fugas ao
fisco. Conseguindo que tudo isto funcione no médio a longo prazo, a economia
tem possibilidade de recuperar, pelo menos segundo o meu raciocínio.
E
quando a situação estiver equilibrada, toda a gente tiver os seus lucros, os
seus rendimentos necessários, talvez não haja incentivos à prática da economia
paralela nem o Governo precise de aumentar as taxas de imposto. Assim, só
precisaremos de contabilizar as receitas geradas pelos impostos e não nos
preocupar com o que passa ao lado!
Tânia
Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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