A actual tendência de emigração da população portuguesa, principalmente na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, é uma realidade que merece ser avaliada sob vários pontos de vista. Os dados são evidentes: só em 2012, a emigração atingiu números recorde, isto é, mais de 100 mil portugueses saíram do país em busca de uma vida melhor, de estabilidade financeira, de uma carreira de sucesso, um aumento significativo relativamente aos anos anteriores.
A grande questão que se coloca é: até que ponto nos devemos preocupar com esta emigração com principal incidência nas faixas estárias mais jovens? Poderá este fenómeno afectar negativamente o desenvolvimento económico e social do nosso país? Ou trará benefícios a longo prazo?
Não há ainda dados nem estudos suficientes para analisar este recente fenómeno, que nos permitam chegar a um concenso.
Poderá ser um erro equiparar este processo a uma chamada “Fuga de Cérebros” ou “Brain Drain”, denominação utilizada para classificar este fenómeno aplicado a jovens com qualificações académicas acima da média. É um facto que este tipo de emigração tem vindo a aumentar ao longo dos anos, mas não é só a ele que se deve o aumento exponencial de jovens que abandonam anualmente o nosso país. Ainda assim, e considerando que as oportunidades criadas pela grande maioria dos países que acolhem os emigrante portugueses da actualidade são bastante mais exigentes ao nível de qualificações e especialização, ao contrário do que acontecia nos anos 60 e 70, é natural que este seja um fenómeno em ascensão. A mão-de-obra que procuram nos portugueses tem portanto que corresponder às cada vez mais exigentes propostas do mercado de trabalho internacional, e é nesse sentido que o número de jovens formados que decidem emigrar tem vindo a aumentar. Assim se justifica que cerca de 20% dos diplomados em Portugal optem por trabalhar fora do país, segundo estudos da OCDE, nos quais só a Irlanda se encrontra em posição pior.
Pensando numa lógica meramente financeira, um aluno que complete a sua escolaridade desde o ensino primário ao secundário em escolas portuguesas tem um custo para o estado superior a 46 mil euros, sem contar com eventuais bolsas estatais durante o seu percurso universitário, um investimento que pode ser considerado em vão caso esse jovem não aplique os conhecimentos adquiridos no desenvolvimento do país. Aqui se aplica uma análise de custo-benefício, e com uma taxa de 20%, pode começar-se a pensar que este é um investimento insustentável da parte do Estado português, que acaba por não retirar qualquer benefício do mesmo, caso esses jovens não regressem ao país, ao contrário dos países que acolhem estes jovens, que nada investiram na sua formação e que tiram proveito deste capital humano altamente qualificado.
Há quem defenda, e será utópico pensar o contrário, que este fenómeno traz vantagens para ambas as partes. Para o empregador estas são óbvias, mas mesmo para o Estado português, podemos pensar que estamos de certo modo a exportar desemprego, uma vez que os emigrantes fazem maioritariamente parte de uma faixa etária problemática. Ao saírem do país contribuem positivamente para o emprego e abrem oportunidades aos jovens que cá ficam. Ao mesmo tempo, ganham experiência internacional, adquirem e aperfeiçoam os conhecimentos que poderão, quando (e se) regressarem, aplicar no desenvolvimento da nossa economia. Além disso, podem ser referidas as remessas que enviam para Portugal, que apesar não podermos considerar vitais para a resolução do problema financeiro que atravessamos, nem tão pouco compará-las às que existiram nos anos 60 e 70, aumentaram em cerca de 300 mil milhões euros anuais desde 2010.
Claramente que, num contexto de desemprego jovem como aquele em que Portugal se encontra, com valores a rondar os 42%, é aliciante para os recém-formados procurarem trabalho fora do país, em busca de melhores oprotunidades do que as que encontram cá, não só a nível salarial como também em termos de projecto de carreira. O motivo da deslocação é muitas vezes a procura de uma cultura de trabalho mais centrada no talento, menos hierárquica e onde os esforços são recompensados, não tanto por falta de oportunidades em Portugal mas por falta de oportunidades boas, criadas não só pela economia mas também pela cultura laboral e de gestão.
Apesar de poder ser aliciante ver na “exportação” do desemprego uma vantagem da emigração jovem no curto prazo, é errónico não pensarmos noutra perspectiva, a mais longo prazo, isto é, não considerarmos a sustentabilidade do Sistema de Segurança Social, que pode ser afectado porque quem cá fica são os indivíduos de idade mais avançada, sem que haja qualquer certeza do regresso dos que emigram, para que voltem não só a contribuir para o equilíbrio ou recuperação so Estado Social como para trazer os conhecimentos adquiridos nas suas experiências internacionais. Além disso, há ainda quem defenda que, se Portugal não se desnvolveu mais nos anos 60 e 70 foi, precisamente, por exportar mão-de-obra. O facto de estes indivídos não contribuirem para os desenvolvimento do nosso país, indo trabalhar para o estrangeiro, pode agravar ainda mais a nossa situação económica e levar mesmo a uma estagnação e um atraso, como aconteceu nessa época em que o fenómeno, embora com características particulares, era bastante semelhante ao que assistimos hoje.
Por outro lado, e aproveitando a comparação com essas décadas, esta pode ser uma excelente oportunidade para nos posicionarmos internacionalmente através de profissionais de excelência que se destaquem num contexto internacional e que quebrem de certo modo a ideia de um Portugal atrasado e retrógado, o que marca de certo modo a evolução do nosso país.
É neste sentido que existe uma enorme necessidade de reorganização do nosso mercado laboral, numa lógica de valorização do capital humano e da criação de oportunidades de desenvolvimento profissional, para que se criem condições de acolhimento para esta geração que se vê aliciada a emigrar e que, apesar de poder trazer algumas vantagens disso, é uma geração altamente qualificada e preparada que muito pode dar ao país e ajudar ao seu desenvolvimento.
Joana Barros
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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