quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O avanço da China num mercado fragilizado

           Com Portugal numa intensa crise económica, recorrendo ao financiamento do FMI, União Europeia e Banco Central Europeu para sobreviver, a China avança a largo passo, fruindo das fendas oferecidas pela crise nos países Europeus. Algumas empresas Chinesas têm vindo a ocupar uma posição de destaque nos negócios portugueses, com a compra de 21,35% da Energias de Portugal (EDP) e 25% da Rede Eléctrica Nacional (REN), e também em outros países Europeus, com o aluguer de metade do porto do Pireu (Grécia) e a compra da Volvo. Também a outros níveis o investimento Chinês tem surtido efeitos positivos, nomeadamente, ao nível da investigação científica na área da saúde. Segundo Carla Oliveira, investigadora responsável por um projeto dedicado ao campo da genómica, sem o financiamento Chinês esse projeto não sobreviveria. O investimento da China na União Europeia atingiu os $5,96 bilhões em 2010. Mas o percurso não se resume a um só sentido, também na China o investimento Europeu tem vindo a aumentar gradualmente, embora seja bastante menor, pois a Europa tem o Know-How e a tecnologia avançada e eles têm uma elevada capacidade de financiamento. As empresas chinesas encontram poucas barreiras no acesso aos nossos mercados, ao contrário da UE, que tem acesso apenas a um mercado Chinês bastante restrito.
            Em Portugal, segundo a legislação, os estrangeiros que criarem pelo menos dez postos de trabalho, efectuarem um depósito bancário superior a um milhão de euros ou comprarem uma casa de pelo menos 500 mil euros têm direito à Autorização de Residência para Actividades de Investimento, o chamado Golden Visa. O número de vistos atribuídos à comunidade chinesa em Portugal tem vindo a crescer, possibilitando uma injeção de capital num país onde existe uma enorme carência financeira ao nível empresarial. Mas, pelo contrário, a crescente entrada da China no mercado português e a entrada de produtos chineses a baixo preço, tem provocado desemprego nos mercados mais fragilizados que não aguentam a elevada competição, como o sector têxtil.
            Embora estes investimentos sejam de extrema relevância e coloquem a Europa mais atrativa no mercado mundial, esta situação poderá ser vista como um quid pro quo, pois espera-se o reconhecimento da contribuição da China, nomeadamente, com uma significativa participação nas decisões internacionais e com a abertura dos mercados europeus a mais investimento chinês e mais oportunidades. Uma das grandes questões impostas neste atual desenvolvimento passa pela previsão futura para a China, ou seja, será que o império do meio está a ser suficientemente sagaz para sair inteiro de tudo isto? Segundo os media oficiais chineses, no segundo trimestre de 2013, o PIB da China apresentou uma expansão de 7,5%, sendo a sua taxa mais baixa em 13 anos, indicando já um reflexo da queda nas exportações, resultado do momento económico vivido nos Estados Unidos e União Europeia. Para fazer face aos números apresentados, a China aposta num crescimento estável, mantendo "uma política monetária prudente e uma política fiscal pró-ativa", afirma o Partido Comunista Chinês.
            Segundo Tian Guoli, Presidente do Banco da China, “Os investidores chineses olharam na década passada para os Estados Unidos da América e para o Japão, mas agora é a vez de haver mais cooperação com a Europa, nomeadamente com Portugal e países do sul do continente”. O maior País da Ásia Oriental foi outrora um grande parceiro comercial da Europa, mas actuando sempre como figurante. Actualmente, a China invadiu grande parte do mercado Europeu, passando a ter um poderoso papel de protagonista e arrecadando o troféu de segunda potência económica do planeta, ameaçando a médio prazo os Estados Unidos da América.

 Ana Soraia Dias de Sousa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]   

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