Nos últimos anos muito se tem ouvido falar sobre o
mercado de trabalho, a necessidade de o flexibilizar e sobre o desemprego.
Desde que a crise económica “rebentou” que estes têm sido temas que nos
acompanham regularmente nos meios de comunicação social e por isso é pertinente
fazer uma análise da situação do país.
Baseado no “Indicador de Protecção ao Emprego” da
OCDE, Portugal apresentava um mercado de trabalho com extrema rigidez, sendo
mesmo um dos países com mais alto nível de protecção entre os países da União
Europeia estudados. Assim, o Fundo Monetário Internacional exigiu a sua
flexibilização, uma menor protecção ao emprego e burocracia, abordando os
custos de despedimento e facilitando a contratação.
Com uma protecção ao emprego elevada as empresas
têm menos incentivos a contratar, maiores dificuldades em se adaptarem de forma
rápida à conjuntura da economia global bem como uma maior dificuldade em
despedir trabalhadores menos produtivos. Desta forma, foram levadas a cabo
medidas como a redução das indemnizações por despedimento e diminuição do
salário mínimo. Contudo, estas propostas encontraram alguma resistência por
parte dos sindicatos, UGT e CGTP.
A flexibilização foi muitas vezes defendida como a
solução para o desemprego. É certo que a reforma do mercado laboral avançou mas
o desemprego continuou a aumentar. Houve até quem afirmasse que aumentou acima
do que era esperado. E nos dias de hoje voltamos a ouvir falar em planos para
uma nova redução do salário mínimo de maneira a flexibilizar ainda mais o
mercado de trabalho devido à necessidade urgente de reduzir o desemprego.
A questão que se coloca hoje em dia em Portugal é:
“Será a redução do salário a solução para combater o desemprego?”. É difícil
encontrar um consenso quanto às medidas que se devem tomar. O economista John
Keynes mostrou-se contra a redução dos salários, defendendo que esta situação
prejudicaria a economia e agravaria ainda mais a situação. Esta ideia pode ser
defendida através de um argumento simples: um empresário que reduza os salários
consegue diminuir o custo do trabalho e melhorar a competitividade, todavia, se
todos os empresários conseguirem reduzir os salários de todos os trabalhadores,
a economia irá ressentir-se uma vez que a procura total vai diminuir e as
empresas vão reduzir as suas vendas.
Perante um mundo cada vez mais globalizado, a
flexibilização do mercado de trabalho era, sem dúvida, uma reforma necessária.
Necessária no sentido em que elimina obstáculos ao desenvolvimento do sector
privado e tenta atrair investimento estrangeiro, criando assim emprego e
aumentando a competitividade. No contexto de um mercado comum como o da UE,
possuir uma elevada protecção e custos de trabalho superiores aos restantes
membros apresenta uma desvantagem competitiva para a nossa economia. Na minha
opinião, embora estas medidas possam não ter mostrado resultados quanto à
questão do desemprego no imediato deixam Portugal numa situação mais favorável
para competir no futuro com os restantes Estados-membros.
Quanto à diminuição do salário, a Troika quer
vender aos portugueses a ideia de que um nível salarial mais baixo pode
incentivar a criação de emprego e a contratação. Nos últimos anos Portugal
sofreu vários cortes salariais com vista à flexibilização do mercado laboral e
incentivo à contratação. É certo que a flexibilização foi positiva e era
necessária mas continuar a defender insistentemente cortes salariais como a
solução do desemprego não me parece a solução. Aliás, pelos resultados obtidos
este parece não ser caminho. É importante ter em mente que o salário é um custo
para a empresa mas que, acima de tudo, é também o rendimento que permite a
compra de produtos às mesmas. Assim, o combate ao desemprego deve ser feito
através do crescimento económico, devendo Portugal apostar no aumento da
produtividade. Na minha opinião, não é a redução do salário que cria emprego,
pelo que uma nova diminuição do salário mínimo seria um
erro com custos sociais enormes.
Regina
Gonçalves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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