domingo, 13 de outubro de 2013

A crise do desemprego

Após atingir um máximo histórico dos últimos anos, quando em Janeiro atingiu os 17,6%, a taxa de desemprego em Portugal tem vindo a diminuir lentamente, sendo que o mais recente valor indica a redução de uma décima entre Julho e Agosto, segundo o Eurostat, sendo esta, segundo a mesma fonte, a sexta variação negativa da taxa de variação em cadeia para este indicador, quer isto dizer que, desde o mês de Março, a taxa de desemprego tem vindo a diminuir face ao mês anterior. Face a isto, governo e oposição têm visões divergentes. De que lado está a razão?
A oposição tem argumentado que estes valores se devem a sazonalidade, já o governo, naturalmente, tem uma visão mais otimista, ainda que bastante cautelosa, defendendo que este pode ser o início da recuperação.
Não há dúvida, e ninguém pode negar que, tradicionalmente, os meses de Julho, Agosto e até Setembro são caracterizados por bastante emprego sazonal, quer por motivos de férias, quer pelo aumento da oferta de emprego devido à incidência do turismo, o que pode levar a algum desacerto dos valores para os meses em questão. Contudo, podemos verificar que é a meio ano que a taxa de desemprego tem diminuído, o que leva a algum otimismo, que se pode dizer justificado, por parte do governo, apesar de se verificar que entre Março e Agosto, o taxa de desemprego só reduziu em 1 ponto percentual.
Uma outra abordagem da situação tem a que com a primeira taxa de variação em cadeia negativa, que ocorreu em Março, registando uma queda de 1 décima percentual, e desde esta data até hoje, mensalmente, o desemprego tem diminuindo. Apesar de parte desta diminuição poder ser explicada pelos meses de verão, Março, Abril e Maio, não estão incluídos nesta lista, e não é comum verificar-se sazonalidade neste período nem algum aumento significativo do turismo, o que leva a crer que estas diminuições podem, de facto, representar uma viragem a nível de emprego.
Uma abordagem mais negativa, e salientada pela oposição, tem a ver com a subida do desemprego no último ano, ou seja, a taxa de variação homóloga, que compara o valor do desemprego atual com do valor ao mesmo período do ano passado, esta, sim, é positiva, bastante positiva. Por exemplo, segundo dados do INE, entre o segundo trimestre de 2012 e o segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego subiu 1.4 pontos percentuais, que representam uma t. v. h. de 9,3%, isto é, entre os primeiros trimestres destes dois anos subiu 2.8 pontos percentuais. Estes valores são bastante elucidativos quanto a perda de emprego que se tem verificado no país neste último ano e meio, o que leva a que a oposição tenha a sua razão quando afirma que a situação do desemprego não apresentou qualquer melhoria.
Segundo os dados apresentados pelo INE, a descida da taxa de desemprego entre o 1º e o 2º trimestres deste ano foi de 1,3 pontos percentuais, ao passo que as subidas entre os trimestres anteriores tinham sido a um ritmo inferior, por exemplo entre o 3º e 4º trimestres de 2012 a subida da taxa foi de 1,1 pontos percentuais, o que leva a verificar que, por agora, a ritmo de decréscimo da taxa de desemprego é maior do que aquele que foi o ritmo de subida nos trimestres anteriores, o que faz deste um indicador bastante positivo. Faço ainda uma referência a taxa de desemprego jovem, que recuou para 36,8% em Agosto, face aos 37,7% em Julho, o que representa uma redução de 0,9 pontos percentuais nas pessoas com menos de 25 anos.
Para finalizar, na análise destes valores, convém não esquecer que a população ativa em Portugal tem vindo a diminuir, e, segundo as estatísticas do Banco de Portugal, esta tem, tendencialmente, vindo a diminuir desde o início do ano de 2010.
Será agora o início do fim desta crise?
Certamente, os próximos meses nos darão respostas mais concretas, com o fim da sazonalidade, e a possível redução do IRC que o governo poderá implementar.

Nuno Miguel Gomes de Araújo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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