Seja no pc, no tablet ou no smartphone, os media fazem-nos acreditar que estamos a viver a pior travessia da humanidade – PIB’s a decrescerem, desemprego a aumentar, pensões a diminuírem[…] – e que analisar/mencionar/estudar a felicidade é uma prática herege e desrespeitadora para com os verdadeiros problemas da sociedade. Há quem diga que a felicidade não é o suficiente para ser considerada um objectivo a atingir em períodos de austeridade, em que existem perdas, de facto, tangíveis e direitos revogados a torto e a direito.
A juntar-se a um grupo de economistas maioritariamente europeus [italianos, suiços e ingleses], está o portuense Gabriel Leite Mota, o primeiro português doutorado em Economia da Felicidade, que procura uma outra perspectiva de viver a economia e investiga o valor social de bens imateriais como a felicidade.
As mais recentes investigações demonstram que a felicidade deixou de ser vista como uma acumulação utilitarista do máximo de experiências prazerosas e que o consumo dos bens mais convencionais, depois das necessidades básicas estarem cumpridas - Só há liberdade a sério quando houver/a paz, o pão/ habitação/saúde, educação – não estão directamente relacionados com o bem-estar da sociedade, e, sendo que já se vive uma vida plena, estes não parecem aumentá-la.
Surge então um novo ângulo para estudar a felicidade através de economistas e não de psicólogos, que a analisavam de uma perspectiva puramente hedónica. Munidos de dados estatísticos e estudos econométricos, abordam o papel da felicidade nas implicações políticas, na promoção do bem-estar pessoal e colectivo, o que isso pode acarretar nas relações interpessoais e a forma como a comparação entre elas as pode mover, repensando assim a democracia, a educação e o emprego.
Fará sentido falar de felicidade num momento de crise? As mais importantes perspectivas sobre a felicidade vindas de economista surgiram em tempos penosos das sociedades e confirmam que, historicamente, faz todo o sentido. Foi assim que aconteceu com Thomas Hobbes e a sua teoria da felicidade, com John Locke e a sua visão da felicidade como liberdade e com John Stuart Mill, que abordou a perspetiva da felicidade como sociabilidade.
Fundamentalmente, é importante compreender o impacto das desigualdades e do desemprego na felicidade para se poder esclarecer alguns paradoxos: desviar o estudo da ligação da felicidade com o consumo e analisá-la no contexto das organizações laborais, relacionando-a, por isso, numa abordagem mais causal e não correlacional com produtividade torna-se imperativo, pois não podemos guiar-nos apenas pelas opiniões cépticas de quem navega num ciclo económico recessivo:“a Economia é uma ciência social e como tal tem de se estudar pela vida das pessoas, debruçando-se sobre como nos organizamos nas tarefas de produzir o que precisamos para viver. Muito além das análises de crescimento económico”.
Rita Andrade Brites Pereira
Fontes:
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=51031
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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