Um retrato a preto e branco talvez seja o que melhor descreve a
Agricultura Portuguesa. Desde a viragem do século, dá-nos a imagem de um país
sem vida onde, no espaço de uma década (entre 2000 a 2010), foram
desactivados cerca de 500 mil hectares de terreno, estando já condenados 2
milhões de hectares a mato. O domínio de mão-obra familiar, de actividade a
tempo parcial, e o envelhecimento são traços característicos deste mesmo
retrato.
A par desta situação,
assistimos a uma crescente procura interna de bens alimentares, que é colmatada
apenas pela importação de cada vez mais alimentos, ou seja, ao longo dos
últimos anos começou a construir-se um enorme défice agro-alimentar que
contribuiu para o excesso de endividamento que assola os portugueses nestes
tempos de crise.
Também com a entrada de
Portugal na União Europeia semeava-se a crença de que era possível prosperar no
setor terciário e os esforços ter-se-ão centrado neste mesmo setor, em
detrimento da produção quer agrícola quer industrial. Segundo dados da PORDATA,
que mede a população empregada por setor de actividade, em 2001 o setor
primário representava 12,8% da economia e foi sucessivamente decrescendo até
2011. atingindo o valor mais baixo de sempre: 9,9%. Em contrapartida, o
terceiro setor foi ganhando cada vez mais representação na economia, atingindo
63,9% em 2011, mais 10,5 pontos percentuais do que o registado em 2001.
Contudo, começa a existir
por parte dos governantes e agentes políticos uma preocupação crescente com
esta realidade. A ministra Assunção Cristas terá já lançado o mote do rumo a
ser tomado: “ A população mundial está a aumentar, vai precisar continuamente
de alimentos e nós sabemos produzi-los bem.” As pessoas também parecem começar
a responder ao “apelo”, como referiu o secretário de estado José Diogo
Albuquerque. Este regresso à terra está a ser impulsionado por jovens
empreendedores, por desempregados, muitos com formação académica, que começam a
olhar para a agricultura como uma fuga à crise. A partir de programas como o
PRODER – Instrumentos Estratégicos e Financeiros de apoio ao desenvolvimento
rural do continente, bem como outros programas de financiamento, começaram a
surgir projectos interessantes, inovadores, que visam reformar a agricultura e
fazer uso do potencial desaproveitado no nosso país.
Por fim, creio que a crise
e a recessão que o país tem sofrido expuseram a nu muitas das debilidades da
economia portuguesa. É certo que temos muitas potencialidades no setor dos
serviços, principalmente no turismo, mas será que o desinvestimento em áreas
como a agricultura será o caminho certo a percorrer? Para mim, a resposta é um
claro NÃO. Certo que não poderemos fazer frente a economias de produção fortes,
como o Brasil, existem áreas em
que Portugal tem possibilidades de concorrer com os gigantes
do setor. O vinho made in Portugal,
por exemplo, está a começar a ganhar força no exterior. E mesmo que não seja
possível concorrer ao nível dos preços, Portugal terá que apostar naquilo que o
diferencia, e na qualidade dos seus produtos. O país deverá fazer uso das
características únicas que a Península Ibérica reúne, e deverá apostar forte na
valorização dos produtos nacionais. Estamos claramente reféns do mercado
global, o nosso mercado interno é muito limitado, e as novas empresas terão que
ter necessariamente uma mentalidade exportadora. Tenho a certeza que se
semearmos políticas que visem reformar a agricultura e se deixarmos cair por
terra de vez o estigma em relação ao campo, o país sairá reforçado e o retrato
ganhará cor e vida!
Hélder Gaspar
Gonçalves Miranda
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
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