sexta-feira, 18 de outubro de 2013

AGRICULTURA PORTUGUESA: REGRESSO AO CAMPO

           Um retrato a preto e branco talvez seja o que melhor descreve a Agricultura Portuguesa. Desde a viragem do século, dá-nos a imagem de um país sem vida onde, no espaço de uma década (entre 2000 a 2010), foram desactivados cerca de 500 mil hectares de terreno, estando já condenados 2 milhões de hectares a mato. O domínio de mão-obra familiar, de actividade a tempo parcial, e o envelhecimento são traços característicos deste mesmo retrato.
         A par desta situação, assistimos a uma crescente procura interna de bens alimentares, que é colmatada apenas pela importação de cada vez mais alimentos, ou seja, ao longo dos últimos anos começou a construir-se um enorme défice agro-alimentar que contribuiu para o excesso de endividamento que assola os portugueses nestes tempos de crise.
         Também com a entrada de Portugal na União Europeia semeava-se a crença de que era possível prosperar no setor terciário e os esforços ter-se-ão centrado neste mesmo setor, em detrimento da produção quer agrícola quer industrial. Segundo dados da PORDATA, que mede a população empregada por setor de actividade, em 2001 o setor primário representava 12,8% da economia e foi sucessivamente decrescendo até 2011. atingindo o valor mais baixo de sempre: 9,9%. Em contrapartida, o terceiro setor foi ganhando cada vez mais representação na economia, atingindo 63,9% em 2011, mais 10,5 pontos percentuais do que o registado em 2001.
         Contudo, começa a existir por parte dos governantes e agentes políticos uma preocupação crescente com esta realidade. A ministra Assunção Cristas terá já lançado o mote do rumo a ser tomado: “ A população mundial está a aumentar, vai precisar continuamente de alimentos e nós sabemos produzi-los bem.” As pessoas também parecem começar a responder ao “apelo”, como referiu o secretário de estado José Diogo Albuquerque. Este regresso à terra está a ser impulsionado por jovens empreendedores, por desempregados, muitos com formação académica, que começam a olhar para a agricultura como uma fuga à crise. A partir de programas como o PRODER – Instrumentos Estratégicos e Financeiros de apoio ao desenvolvimento rural do continente, bem como outros programas de financiamento, começaram a surgir projectos interessantes, inovadores, que visam reformar a agricultura e fazer uso do potencial desaproveitado no nosso país.
         Por fim, creio que a crise e a recessão que o país tem sofrido expuseram a nu muitas das debilidades da economia portuguesa. É certo que temos muitas potencialidades no setor dos serviços, principalmente no turismo, mas será que o desinvestimento em áreas como a agricultura será o caminho certo a percorrer? Para mim, a resposta é um claro NÃO. Certo que não poderemos fazer frente a economias de produção fortes, como o Brasil, existem áreas em que Portugal tem possibilidades de concorrer com os gigantes do setor. O vinho made in Portugal, por exemplo, está a começar a ganhar força no exterior. E mesmo que não seja possível concorrer ao nível dos preços, Portugal terá que apostar naquilo que o diferencia, e na qualidade dos seus produtos. O país deverá fazer uso das características únicas que a Península Ibérica reúne, e deverá apostar forte na valorização dos produtos nacionais. Estamos claramente reféns do mercado global, o nosso mercado interno é muito limitado, e as novas empresas terão que ter necessariamente uma mentalidade exportadora. Tenho a certeza que se semearmos políticas que visem reformar a agricultura e se deixarmos cair por terra de vez o estigma em relação ao campo, o país sairá reforçado e o retrato ganhará cor e vida!

Hélder Gaspar Gonçalves Miranda

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]

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