quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Portugal e Euro: destinos cruzados?

A adoção da moeda única foi o último passo do processo de integração de vários países da União Europeia, incluindo Portugal, que adotou o euro como moeda em 1999. O uso de uma moeda única comporta diversas vantagens, desde logo por ser um símbolo concreto da identidade europeia e dar à União Europeia uma voz mais forte nos fóruns internacionais.
As vantagens são evidentes e o quadro em que é gerido o euro faz desta moeda uma moeda estável, com um baixo nível da inflação e taxas de juro baixas. Uma moeda única é também um complemento lógico do mercado único, cuja eficácia aumentou significativamente.
Mas nem tudo são vantagens: as descidas drásticas das taxas de juro no nosso país tiveram como resultado o forte endividamento privado e a descida gradual da taxa de poupança. Desde a entrada na União Europeia, a realidade económica portuguesa alterou-se radicalmente. Com o fim das barreiras comerciais, temos assistido à terciarização da nossa economia. Os setores primário e secundário foram fortemente afetados pela concorrência, sendo o setor do turismo em Portugal o setor económico mais beneficiado pela adotação da moeda única.
Verificamos também que em Portugal e noutros países periféricos, como a Grécia, desde a adesão ao mercado comum registam balanças correntes negativas ano após ano e o crescimento constante da dívida pública, que se elevou para níveis alarmantes (previsão da OCDE para Portugal em 2014 é que a dívida pública deverá superar 132% do PIB).
Os dados são conhecidos. Desde que o euro entrou em efetiva circulação até hoje, o crescimento médio do PIB foi praticamente nulo, o investimento caiu a pique e muito do nosso aparelho produtivo e industrial foi destruído.
A decisão de avançar para a moeda única quando os países não estão verdadeiramente integrados em termos financeiros pode agravar as disparidades existentes entre eles. Existem estudos empíricos que ilustram que são vários os países que aderiram ao Euro e que não dispunham de condições para avançar para o processo de integração. São os casos de Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, países que apresentam neste momento problemas associados às suas estruturas económicas e orçamentais.
Para uma área monetária comum funcionar em pleno, alguns requisitos são necessários, entre eles: mobilidade dos fatores de produção, especialmente o trabalho; flexibilidade de preços e salários; taxas similares de inflação; grau razoável de abertura económica; e integração financeira, política e fiscal. Os Estados Unidos conseguem manter a sua moeda comum porque apresentam tais condições. Mas nada parecido existe na Europa. Ignorar este "detalhe" foi um erro do passado e só agora se está a pagar a fatura.
É difícil imaginar que economias como Portugal, Grécia e Espanha se tornem tão competitivas em tão pouco tempo, o que significa que insistir no euro será criar um mecanismo permanente de transferência de recursos de países com superavits na balança corrente, como a Alemanha, para os restantes países, algo que será difícil de aceitar pelos alemães.
Na passada quarta-feira, na Universidade de Harvard, Mario Draghi afirmou que os críticos norte-americanos subestimaram o compromisso dos europeus com a moeda única e estavam errados quando pensaram que esta ia entrar em colapso. Para o presidente do BCE, os críticos "confundiram o euro com um regime de câmbio fixo, quando, na verdade, é uma moeda única irreversível porque nasceu do compromisso das nações europeias no sentido de uma maior integração".
É do senso comum que o único caminho de sobrevivência do Euro é uma maior integração fiscal entre as nações europeias. Após a criação da zona Euro, já muitos autores apontavam no sentido que o próximo passo seria o federalismo fiscal. Contudo, e porque essa jamais foi uma opção clara e amplamente partilhada pelos países, não houve avanços significativos nesse sentido. Uma maior integração fiscal representa inevitavelmente a perda de autonomia orçamental dos estados, e isso é algo que ainda é difícil de aceitar nos dias de hoje.
Como dizia Herbert Stein, importante economista estadunidense, "se alguma coisa é insustentável, ela vai parar". Assim, para que este projeto europeu seja sustentável algo tem de ser feito, mas uma coisa é certa: o destino de Portugal será o destino do Euro. Agora, só nos resta esperar que seja um bom destino.

João Paulo Castro Martins 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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