Será que é mau o facto de um Estado ter dívidas? Não, não é
necessariamente mau que um estado tenha dívidas, pois o crédito é uma forte
fonte de crescimento económico desde que seja gerido com prudência. Por
exemplo, um Estado emite dívida a 10 anos para financiar o défice e até lá paga apenas juros. Se a economia desse país
crescer a uma taxa superior à paga pelo empréstimo, este não terá dificuldades
em pagar a sua dívida. Contudo, num país já endividado e com fraco crescimento
económico, os encargos com juros podem comprometer o crescimento da economia e
o pagamento da dívida. Um exemplo claro é Portugal.
O que sucedeu
com Portugal foi que quando os investidores verificaram que a dívida do
país tinha aumentado a pique na última década (de 50,4% em 2001 para 92,4% em 2010),
devido a défices orçamentais sistemáticos, e a economia crescia muito pouco,
muitos destes investidores deixaram de emprestar dinheiro a Portugal e outros
passaram a exigir taxas de juro altíssimas, com receio que Portugal não
conseguisse pagar a divida, ou seja, o país teve de pedir ajuda financeira para
evitar a falência.
Cortes, reforma, crise, dificuldades, …
são palavras da ordem do dia, desde então. Portugal, no âmbito do programa de
resgate internacional por parte da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e
Fundo Monetário Internacional, foi sujeito a um programa de ajustamento que
implica cortes na despesa do Estado, muitas vezes, cortes em áreas sensíveis e
que podem eventualmente comprometer o desenvolvimento futuro do país, como a
Educação ou a Saúde. Tendo em conta o actual cenário de instabilidade, tornou-se
imperativo cortar, reformar e reorganizar o papel do Estado, sendo que, uma das
últimas medidas adoptadas pelo governo português foi a reorganização da
Administração Local, com o intuito de cortar nas despesas do Estado. Falamos,
pois, da agregação de freguesias, medida que gerou muita polémica entre o povo
português.
Se o objectivo é cortar na despesa do Estado,
parece simples concluir que tal medida realmente permite ao Estado uma
diminuição dos gastos, pois grande número de instituições sobrevive à custa das
transferências do Estado, as quais representam uma grande fatia do Orçamento do
Estado. Mas, na minha opinião, não está correcta a implementação desta medida.
Quanto à minha discordância em relação à
medida implementada, esta surge, depois de analisar o reporte do défice e da
dívida das Administrações Públicas, segunda notificação de 2013, do INE,
relativa ao Procedimento dos Défices Excessivos (PDE). Nesse documento, podemos
ver claramente que a administração local está a contribuir positivamente (não
apresentando défices) para o controlo da dívida pública, assim como os fundos
de segurança social, que nos últimos anos têm apresentado valores muito
positivos. No entanto, espera-se que neste ano de 2013 apresentem um resultado
negativo. E eu pergunto-me porque é que o estado português quer reduzir as
despesas na administração local, se esta está a apresentar resultados positivos
ou, se negativos, valores muito próximos de zero. Acho que a preocupação
deveria ser aquilo que efectivamente está a contribuir de forma negativa, e
muito negativa, para o aumento da nossa dívida.
Outro dado interessante do reporte acima
mencionado é que as administrações públicas apresentam um resultado negativo de
9.083,9 milhões de euros, onde a administração central contribui com 9.616,8
milhões de euros. Como dito anteriormente, são os resultados ligeiramente
positivos da administração local e dos fundos de segurança social que estão a anular
cerca de 600 milhões de euros do resultado negativo da administração central.
Para tentar corrigir este desequilíbrio
tão grande na administração central não vemos serem lançadas medidas e por isso
acho que seria bom que o governo português passasse a olhar com mais atenção
para este facto, pois no meu ponto de vista se há necessidade de haver cortes
nas despesas para equilibrar as contas do Estado, este deve em primeiro lugar
cortar naquilo que efectivamente está a contribuir com resultados negativos; em
segundo lugar, deve avaliar bem os cortes que se faz, pois o objectivo não pode
ser só cortar nas despesas porque também é necessário pôr a economia a crescer
e estamos a assistir consecutivamente a medidas que não contribuem para nenhum
destes objectivos.
Segundo dados do INE, na sua segunda
notificação de 2013, mencionada acima, podemos observar uma previsão para a
divida pública portuguesa de 127,8% para o final deste ano de 2013. Ou seja, a
dívida pública continua a crescer e, por consequência, o défice também e a
economia portuguesa não cresce. Estamos perante o pior dos cenários para uma
economia. São portanto necessárias medidas, mas medidas que não impeçam o
crescimento económico e que protejam os mais desfavorecidos.
Ricardo
Araújo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
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