Nos últimos
meses assistimos a um contínuo debate acerca do Orçamento Europeu para o
período de 2014-2020. Em Junho deste ano, o orçamento previsto estabeleceu-se
nos 960 mil milhões de euros. Este é o montante mais baixo de todos os
aprovados desde a formação da UE, apresentando um corte de 95 milhões de euros
relativamente à proposta original de Bruxelas.
No Orçamento
Comunitário vigoram as ações e projetos financiados pela União, e é determinado
o montante das despesas afetadas a cada domínio político no qual esta intervém.
A quota mais elevada das receitas provém de recursos próprios, isto é,
contribuições dos Estados-Membros, direitos de importação e IVA. Mas onde é gasto o dinheiro?
De uma forma generalizada, este é repartido por um vasto leque de atividades,
que vão desde o aumento da competitividade e coesão e o desenvolvimento rural,
à proteção das fronteiras externas e à promoção dos direitos humanos. Ainda
assim, existem dois grandes objetivos que prevalecem nos orçamentos levados a
cabo até agora: a Política Agrícola Comum e os Fundos Estruturais de Coesão.
Serão estes instrumentos capazes de responder às problemáticas económicas
atuais da União Europeia e, mais concretamente, de Portugal?
Embora os
fundos destinados à Politica Agrícola comum tenham sido reduzidos para metade
nestes últimos vinte anos, esta irá absorver quase 40% do orçamento previsto.
No entanto, sabemos que a Política Agrícola Comum assume efeitos um pouco
limitados para a grande maioria da população europeia e portuguesa. No entanto,
é incontestável a repercussão do PAC em Portugal desde a sua adesão à CEE: em
25 anos, o rendimento por unidade de trabalho no sector agrícola cresceu 20% e
a produtividade também cresceu significativamente. Talvez por isso, foi
acordado, ainda este mês, pelo Parlamento Europeu, Conselho de Ministros da
Agricultura e Comissão Europeia, um aumento de 10% da taxa de co-financiamento
na Política Agrícola Comum. Deste modo, Portugal terá 7.6 mil milhões de euros
comunitários para gastar no sector agrícola: quatro mil milhões a (distribuir
em ajudas directas) e 3,6 mil milhões para desenvolvimento rural. Estes 7.6 mil
milhões fazem parte dos totais 21 mil milhões, que no período de 2013-2020,
prevê-se que Portugal irá receber da UE, substancialmente um pouco menos do que
entrou no país entre 2007 e 2013.
É importante
assinalar que, desde a adesão à União Europeia, a economia portuguesa dispôs de
um enorme apoio financeiro, que foi direcionado, especialmente, para a
construção de infra-estruturas físicas. Porém, no panorama em que o país se
encontra, os fundos comunitários podem ser uma grande oportunidade para definir
políticas públicas assertivas para enfrentar as múltiplas fragilidades da nossa
economia. Foi recentemente afirmado pelo Governo que, em detrimento de orientar
os fundos para infra-estruturas, como estradas e escolas, estes seriam
aplicados no emprego e competitividade. A prioridade será dada ás PME’s e ao
combate ao desemprego que, em Agosto de 2013, apresentou um valor de 16,5%.
Estas medidas
inserem-se claramente nas propostas da Comissão Europeia para aplicar logo após
2013. O combate ao desemprego jovem e o estímulo às PME’s revelou-se um dos aspetos
mais focados pela Comissão. Este orçamento pode ser visto como um orçamento de
investimento, onde cerca de 94% do dinheiro regressa aos estados-membros. Ainda
assim, é preciso perceber se o Orçamento Europeu, nos termos atuais, é um
instrumento suficiente para fazer face às problemáticas recentes, ou seja, um
instrumento capaz de reduzir os impactos dos programas de austeridade nas
economias mais frágeis da Europa, e, em simultâneo, contribuir para o crescimento
económico.
Não obstante estas
questões, é preciso não esquecer que a UE possui meios e recursos muito
limitados. Enquanto que o orçamento de um qualquer estado europeu corresponde a
cerca de 40% ou 50% do PIB nacional, a UE tem um orçamento para os próximos
sete anos que equivale a 1% do PIB europeu, destinado a 500 milhões de pessoas.
Apesar dos fundos estruturais ajudarem e serem importantes para aliviar a carga
financeira com o investimento público, a verdade é que estes nunca correspondem
a mais do que 5% do PIB nacional (nos casos mais generosos), em termos reais. Em
Portugal representaram cerca de 2.4% do nosso PIB e 8% da formação bruta de
capital. Ou seja, o orçamento comunitário é demasiado diminuto para a UE ter
quaisquer efeitos no desenvolvimento dos Estados e, mais do que isso, inverter
os problemas que a população europeia enfrenta atualmente.
Joana
Mota
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1ºciclo) da EGG/UMinho]
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