A crise está entre nós. Em
qualquer meio de comunicação social ou conversa de café, ela é um tópico recorrente.
Ela forçou-nos a fazer sacrifícios, cortes na despesa e ainda não tem um final
à vista. Todos nós enquanto cidadãos somos conscientes dos tempos difíceis em
que vivemos, mas não muitas vezes nos interrogamos como é que a situação chegou
a tal ponto. Afinal o que é que causou tal perturbação? Como é que a situação
se tornou tão descontrolada?
A origem da crise
prende-se com o excesso de endividamento. O acesso ao crédito generalizou-se nos
recentes anos do século XXI. Países como os EUA, Reino Unido, Irlanda,
Islândia, Espanha e claro Portugal foram consecutivamente aumentando o seu
nível de endividamento. Grande parte do mesmo destinou-se à aquisição de
habitação e consumo. Neste processo, as poupanças dos cidadãos gradualmente
diminuíram. Paralelamente, verificavam-se taxas de juro muito baixas, os
instrumentos financeiros foram melhorados e supostamente foram criados produtos
que tinham como objetivo reduzir o risco ”securitisation”. Desta forma,
indivíduos economicamente mais carenciados poderiam aceder mais facilmente a
financiamento. Assim, o acesso ao crédito era como uma forma de redistribuição
do rendimento. Será essa uma explicação para a falta de controlo deste setor? O
Estado/Banco Central não deveria ter um papel mais ativo na regulação da banca?
Pois quando um banco se vê em apuros as consequências podem ser desastrosas, e
frequentemente são os contribuintes a pagar a fatura de má gestão. Afinal, não
parece ser uma medida redistributiva muito eficaz…
A principal causa do
crescimento do crédito à habitação foi a forte subida dos preços da habitação
em vários países (EUA, Espanha…). A subida do preço da habitação permitia aos
detentores de crédito que não tivessem condições de o pagar vender a habitação
a um preço superior ao de compra, pagar ao banco e ainda lucrar. Uma clara
bolha imobiliária que se foi tornando gigantesca.
Ainda associada à crise
estão as agências de rating –
Moody’s, Standard and Poor’s e Fitch. No período anterior à crise ocorreu uma
avaliação excessivamente positiva de ativos de risco elevado, o que poderá ter
induzido certos investidores em
erro. Por outro lado, está o problema da proximidade das
agências de rating para com os seus
objetos de avaliação. Não é necessário ter uma licenciatura em Ciências Económicas
para ver que houve um conflito de interesses.
Era óbvio que tais bolhas
especulativas e comportamentos irracionais teriam inevitavelmente um fim. À
medida que a incerteza se foi espalhando, a crise estourou, o comércio
internacional contraiu, os bancos deixaram de ter liquidez, o crédito secou, as
habitações desvalorizaram e o cidadão comum viu-se numa situação económica
muito delicada.
Apesar de a crise nos
estar a causar sérios problemas, é verdade que ela também nos abriu os olhos
para o mundo. É imperativo nos dias que correm aperfeiçoar a intervenção dos órgãos públicos nos mercados financeiros, mas
salvaguardando a liberdade necessária para o funcionamento do mercado e da
inovação. O cidadão comum já não tem uma confiança inabalável nas instituições
financeiras, e estas para reaver tal estima terão que lutar por a merecer.
Mariana Gonçalves Trancoso
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