sábado, 13 de outubro de 2012

Nova exportação

Nas épocas de crise verifica-se um aumento do fluxo emigratório e o que tem sucedido em Portugal não tem sido exceção.
Com o passar dos anos, o perfil do português que emigra tem sofrido alterações. Nas décadas de 60 e 70 eram os trabalhadores com poucas qualificações que emigravam. Os países de eleição eram a França, Alemanha, entre outros, pois nestes países a carência de mão-de-obra era elevada. Em Portugal, as adversidades eram muitas e a emigração também era vista como uma fuga às guerras coloniais. Atualmente, assiste-se a um novo tipo de emigração. O número de jovens na casa dos 20 e 30 anos licenciados, ou com outra formação especializada, que saem do país à procura de um futuro melhor tem aumentado substancialmente. Estes estão espalhados um pouco por todo o mundo, sendo o Reino Unido, Angola, Suíça e Suécia alguns dos países que mais recebem jovens emigrantes portugueses.
A atual crise financeira contribui para o agravamento deste fenómeno, uma vez que as expectativas de se encontrar um emprego na própria área de formação, que seja estável e com boas condições, é cada vez mais uma realidade impossível de alcançar em Portugal. Além da oferta de emprego ser muito limitada para tanta procura, as condições de trabalho são cada vez menos atrativas. Os salários oferecidos normalmente são baixos, existem poucas ou nenhumas regalias, os impostos são cada vez mais elevados e muitas vezes, em vez de contratados, os jovens licenciados trabalham a recibos verdes. Estas condições de trabalho fazem com que a estabilidade financeira e mesmo emocional seja difícil de alcançar.
Na maioria dos casos, os jovens licenciados recorrem à emigração como último recurso. Sendo esta a única alternativa possível para que consigam alcançar alguma independência.
O próprio Governo Português não consegue transmitir uma ideia de grande esperança para os jovens. E esta ideia ficou bem patente nas recentes declarações do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, quando este apresentou a emigração dos jovens portugueses como uma boa alternativa ao desemprego observado em Portugal. Estamos perante um novo tipo de exportação, a exportação de mão-de-obra altamente qualificada. Quem mais lucra com isto são os países que, sem qualquer tipo de investimento, estão a absorver todo o conhecimento produzido em Portugal. Resta saber se emigrar será mesmo a única alternativa plausível para os jovens do nosso país e, a longo prazo, qual será a fatura a pagar.

Filipa Dias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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