Na conjuntura
socioeconómica vigente em Portugal, desde o início do processo de assistência
da chamada “Troika” em 2011, tornou-se cada vez mais premente abordar o futuro
e possível sustentabilidade da Segurança Social. Um dos elementos inerentes ao
conceito de Segurança Social é a partilha intergeracional dos riscos entre os
cidadãos de um dado país, com o propósito da promoção da equidade social e da
solidariedade para com os mais desfavorecidos. Sendo que os objetivos
mencionados são apenas possíveis através de fundos comunitários resultantes das
contribuições individuais, o ideal da justa repartição destes benefícios parece
ter sido comprometido por dois fatores: a proliferação da crise económica
proporciona um aumento considerável dos dependentes do sistema extenuando os
seus recursos, enquanto que a crise demográfica, nomeadamente a diminuição da
natalidade e o aumento da esperança média de vida, levantam a pergunta sobre se
o sistema em prática corresponde a um retrato fiel da composição da sociedade
portuguesa.
Um
dos problemas fulcrais associados à temática da Segurança Social é a
circunstância em que os fundos para as reformas dos pensionistas, as prestações
familiares e cuidados de saúde são obtidos, ou seja, estes valores não
correspondem diretamente ao dinheiro poupado por um indivíduo mas sim ao volume
das contribuições sociais do coletivo num dado ano. A preocupação mais
impreterível será a hipótese cada vez mais provável de, num futuro próximo,
haver um desequilíbrio básico entre o número de reformados e o da população
activa. As soluções normalmente apresentadas para este problema evidenciam uma
dicotomia simplista e por vezes amoral (quando confrontada com a célere
deterioração das condições de vida), nas quais se propõem respetivamente o
aumento das contribuições e a diminuição das quantias dos benefícios como as
reformas.
A
sustentabilidade da Segurança Social é largamente posta em risco através do tratamento
implícito do Governo que descarta o seu caráter estrutural, não dando a prioridade
necessária à sua resolução. Na minha opinião, o atual governo chefiado por
Passos Coelho não possui, após o derradeiro fracasso da proposta da TSU e a
crescente dívida à Segurança Social (ultrapassando os 1,3 mil milhões de
euros), a credibilidade para superar os inúmeros obstáculos que são exacerbados
pelo arrefecimento geral da economia. Esta falta de direção que é demonstrada
por uma grande parte da comunidade política é profundamente alarmante, quando
nos apercebemos que este assunto representa o futuro do povo português.
Tal
como proposto por John Maynard Keynes, a proteção social contra o desemprego e
a velhice é algo indispensável e um princípio ao qual todas as administrações
públicas devem ambicionar, sendo vital para a manutenção da estabilidade
social. Assim devemos concluir que a restauração da confiança dos portugueses é
um fator importantíssimo para a economia e esta será apenas possível se algo
tão inalienável como a Segurança Social lhes for garantida para além de
qualquer dúvida.
Duarte Guilherme
Araújo Guedes Machado
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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