O Estado não conseguiu cumprir a meta do défice orçamental (4,5% do PIB)
em 2012, portanto este é o principal objetivo para 2013. Após a entrega do
Orçamento de Estado de 2013 à Assembleia da Republica, sabe-se que o Governo
não apresentou alternativas à austeridade, ou seja, as medidas anunciadas para
2013 são semelhantes às implementadas em 2012 e continuarão a sufocar os
contribuintes. O OE-2013 representa o plano de austeridade mais violento de que
há memória em Portugal.
De acordo com a proposta de OE-2013, o Estado deverá reduzir os gastos
com as parcerias público-privadas, deverá em concreto rever contratos, repensar
a estratégia a implementar e racionalizar os investimentos das empresas
públicas. Uma outra medida anunciada foi o corte na despesa com as fundações: o Governo pretende reduzir ou
cessar os apoios a fundações e entidades, dessa forma poderá poupar entre 150 e
200 milhões de euros por ano (cerca de metade do financiamento concedido).
Ainda referente à despesa
pública, o OE sugere que os contratados a prazo da função pública serão os
principais candidatos a despedimentos no Estado, isto a par das rescisões por
mútuo acordo e saída de funcionários para a reforma. No mesmo sentido,
prevêem-se cortes no subsídio de desemprego, por isso o acesso a prestações
sociais será dificultado e o montante diminuirá. Para os desempregados mais
velhos o subsídio de desemprego deverá ser cortado e o acesso ao Rendimento
Social de Inserção será mais restrito. Além disso, foi divulgada a
intenção de aplicar a “contribuição
extraordinária de solidariedade” que afeta pensionistas e traduz-se num corte
progressivo das pensões a variar entre 3,5% a 10%.
Relativamente à receita pública temos os impostos. O IVA deverá manter-se. Será introduzida uma sobretaxa extraordinária de IRS que consiste
num aumento desta taxa em 0,5 pontos percentuais comparativamente com o ano
anterior. Anunciou-se a redução do número de escalões de IRS: Portugal tinha
oito escalões de IRS, estes passarão a cinco (para irmos de encontro com a
média da União Europeia uma vez que esta ronda os três a quatro escalões); à
taxa mais alta acresce a taxa adicional de solidariedade, assim como a
progressividade do imposto. Ainda referente aos impostos, o Governo propôs-se
aumentar o imposto sobre o capital, o que significa um aumento na tributação de
1,5 pontos percentuais sobre dividendos, mais-valias e depósitos. Haverá, ainda,
a aplicação de uma nova taxa sobre casas com valor superior a 1 milhão de
euros, isto é, os imóveis cujo valor seja igual ou superior ao referido
montante ficarão sujeitos a uma nova taxa em sede de imposto do selo. A esta
taxa acresce o aumento do IMI e os efeitos da avaliação patrimonial em curso.
Estas são as principais medidas
anunciadas. Resta saber se serão aprovadas na Assembleia da Republica. Se forem,
serão uma barbaridade para os contribuintes. Para os portugueses será
particularmente difícil suportar o aumento da carga fiscal, sobretudo devido ao
aumento exponencial do IRS. Este é sem dúvida o maior aumento de impostos da
história da democracia portuguesa e, após dois anos consecutivos de
austeridade, creio que irá, em parte, eliminar a classe média da economia,
despromovendo-a a classe pobre. Além
disso, não é claro que esta brutalidade no aumento dos impostos garanta que os
problemas financeiros do país sejam resolvidos e, consequentemente, que este
seja o último aumento da carga fiscal.
As políticas propostas deveriam assemelhar-se à redução dos gastos com as
PPP e fundações (poucas das boas medidas anunciadas no OE). O Governo podia ter
apostado numa tentativa de renegociação da dívida, uma vez que os juros desta
representam grande parte do problema português. Em suma, em vez de apostar no
aumento de impostos, o OE-2013 devia incidir na redução da despesa pública.
O Governo afirmou que a recessão esperada é de 1% do PIB, todavia não
penso possível crer em tal, porque as políticas anunciadas não serão por muito
tempo sustentáveis. Tudo isto parece uma loucura, porém acarreta custos enormes,
dos quais o Governo parece não querer saber. O povo está descontente com as
medidas que têm sido tomadas e já começa a sair à rua para se manifestar. Os
contribuintes deveriam ter o apoio do Estado para atravessar estes tempos tão
complicados e não o invés. É o Estado quem prejudica o povo. Se o Governo
continuar a promover a austeridade, penso que as manifestações começarão a ser
cada vez maiores e mais frequentes, o que em nada ajuda a atual situação
económica.
Por experiência recente, temos observado que austeridade conduz a mais
austeridade e desgraça. Prova disso é o fraco desempenho da economia ao longo
dos últimos dois anos. Assim, é de esperar que tanta política de austeridade
conduza à revolta dos contribuintes agravando a recessão económica do país.
Carina Alexandra Pereira Miranda
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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