segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Mercado dos Combustíveis em Portugal e o Incentivo às Gasolineiras “Low Cost”

Quando se toca no tema “Combustíveis”, seja relativamente aos preços praticados, seja quanto à nova legislação aplicada ou quanto à variação da cotação do petróleo nos mercados internacionais, em Portugal, gera-se imensa controvérsia quando surge alguma alteração neste assunto, ora por parte das companhias vendedoras de combustíveis, ora por parte dos cidadãos portugueses. Um facto é que este é um tema que afecta a maioria da população portuguesa. Sem combustíveis é como se a produção e, por sua vez, a economia parasse.
Ao longo dos anos, as críticas dos portugueses quanto aos preços dos combustíveis tornaram-se cada vez mais persistentes, porque, a cada passo, o preço dos combustíveis aumenta e essa tendência é maior do que a tendência de o preço diminuir, mesmo que a cotação do petróleo nos mercados internacionais tenha diminuído. Assim, nestes últimos tempos, a tendência de o preço dos mesmos aumentar tem-se tornado repetitiva: quase de semana para semana surge um novo aumento. Quando isto acontece e face ao baixo poder de compra dos portugueses, a tendência a que se assiste é a de procurar os postos de combustíveis com preços mais baixos, por isso é que muitos portugueses atravessam a fronteira para abastecer em Espanha, pois a diferença de 10 cêntimos por litro no preço do gasóleo e de 20 cêntimos na gasolina, conforme adiantou o Jornal de Negócios em Julho, têm bastante impacto no rendimento dos portugueses.
E a questão que se põe é: porque é que a Espanha consegue praticar preços mais baixos do que Portugal? A resposta a isto é a elevada carga fiscal praticada em Portugal sobre os combustíveis, seja o IVA, seja o ISP, visto que a 27 de Junho, como avançou o JN, a diferença do preço do gasóleo, sem impostos, era de 4 cêntimos por litro entre Portugal e Espanha e na gasolina era de 2 cêntimos, chegando, depois de impostos, a diferença a ser de 10 cêntimos e de 24 cêntimos por litro, respectivamente.
Significa isto que Portugal apresenta então impostos mais altos sobre os combustíveis, uma vez que, segundo o JN, de acordo com relatório da Autoridade da Concorrência quanto ao primeiro trimestre de 2012, “a carga fiscal que incide sobre os combustíveis em Portugal representa 43,8% do preço do gasóleo e 56,4% do da gasolina”. Dado isto, Portugal posiciona-se no nono lugar no “ranking” entre os 27 países da União Europeia com os preços da gasolina e do gasóleo mais elevados.1 Então porque Portugal não baixa a carga fiscal e se assemelha à Espanha, resgatando novamente a procura de combustíveis que fugiu para Espanha e que talvez aumentaria as receitas do Estado neste sector mais do que a prática de impostos elevados?
No entanto, nos últimos dias, com a apresentação do OE Português para 2013, as atenções viraram-se para a dinamização de redes de combustíveis “low cost”, referida nesse mesmo orçamento. É óbvio que o incentivo do Governo aos combustíveis “low cost” agrada a uns, mas não a outros, isto é, aumentar a oferta de combustíveis não aditivados e obrigar as grandes gasolineiras a ter 20% da oferta direccionada para este tipo de combustíveis levou o secretário-geral da APETRO a afirmar que há alguma reserva da coabitação da rede “low cost” com a existente rede de combustíveis, pois trata-se de “intromissão administrativa” e que, devido às questões operacionais, a baixa de preços de combustíveis pretendida pode não se verificar quando isto implica um aumento dos custos de operação, segundo adiantou à Renascença, sendo que a “APETRO aceita o conceito “low cost”, mas fora dos postos de abastecimentos já existentes”.2 O BES Investimento também se opõe, dizendo que isto é “negativo” para a Galp Energia, uma vez que vai “estrangular” as margens no negócio de venda directa ao público.3 Ora, não são as margens de lucro destas grandes gasolineiras já elevadas, em comparação com aqueles postos de combustíveis “low cost” já existentes que conseguem sobreviver no mercado? Se estes últimos não vissem resultados, numa altura em que toda a população tem tendência a procurá-los, já teriam fechado portas.
Deste modo, conforme disse o secretário de Estado da Energia ao Negócios, se o Estado impulsionar este tipo de oferta, muitos postos já fechados e abandonados, principalmente nas fronteiras, poderão reabrir. Isto poderá ser benéfico na medida em que pode aumentar a concorrência com Espanha, visto que muitos encerraram por isso mesmo.
Após esta medida avançada pelo Governo, é relevante perceber que as vendas dos postos de combustíveis “low cost”, como as gasolineiras dos hipermercados, representam 32,2% da quota de mercado e ainda conseguem praticar preços/litro 12,7 cêntimos mais baixos, em média, que os das 4 maiores redes, como a Galp que vende 30,1% dos combustíveis.3
Ora, concluindo, é evidente que aqueles que se encontram a lucrar com a prática de preços mais altos, alegando que isso se deve aos elevados impostos e ao preço do petróleo no mercado internacional não irão de todo concordar com a proposta do Governo, pois se isso ocorrer a tendência dos cidadãos será procurar nessas grandes gasolineiras as mangueiras “low cost”, nas quais os seus lucros serão muito menores e não é isso que os investidores pretendem. Mas se a Galp tem um posto que vende “low cost” em Setúbal, porque não pode ter em todo o país? Não é um bocado contraditório? Assim se vê que os interesses dos cidadãos também tem de ser assegurados e aqueles que, de facto, pretendem os tais combustíveis com aditivos não irão alterar a sua procura, só porque existem mangueiras com combustíveis não aditivados. Por outro lado, aqueles que pretendem os não aditivados terão incentivo a procurar essas mangueiras também nas grandes gasolineiras, por isso é o Estado deve actuar nesse sentido da obrigatoriedade de se ter pelo menos uma agulheta com combustível não aditivado nos maiores postos de combustíveis.

Clarisse Isabel Gomes Martins Costa

Bibliografia:

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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