quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Zona Euro: Área Monetária (não) Ótima

Como é do conhecimento geral, na Europa e particularmente em Portugal, temos instalada uma das maiores crises financeiras e sociais de que há memória. Crise essa que, por momentos, tem posto em causa a continuidade e viabilidade da Zona Euro como atualmente a conhecemos. Como tal, na Europa, não nos deparamos apenas com o problema da dívida soberana, mas principalmente com os motivos que fizeram com que alguns países perdessem o controlo das suas contas enquanto outros se tornaram mais fortes e equilibrados. Isto sugere desde já que a união e económica monetária não beneficia a todos por igual e pior do que isso, prejudica mais a uns do que a outros. Com isso, a credibilidade do Euro e de alguns países da Zona Euro está visivelmente afetada, baixando muito os níveis de confiança dos investidores em relação à Europa.
Segundo o Jornal Sol: “Portugal era em Agosto o 3.º país da OCDE com a taxa de desemprego mais elevada, com um novo máximo de 15,9%, apenas superada pelos 25,1% da Espanha e 24,4% (em Junho) da Grécia.”. Este estudo aponta ainda para: “(…) as «grandes diferenças» entre as taxas de desemprego registadas nos vários países da organização”, onde se destaca “o contraste entre os níveis recorde de Espanha, Grécia e Portugal e as taxas inferiores a 5,5% na Austrália, Áustria, Alemanha, Japão, Luxemburgo, México e Holanda.”.
Ora, como é possível verificar, e dando mais atenção aos países da Zona Euro, existe grande disparidade de valores entre alguns desses países no que à taxa de desemprego (e não só) diz respeito. À partida, sendo a Zona Euro uma área monetária, estes países deveriam apresentar resultados e valores próximos uns dos outros, mas como podemos constatar isso não acontece. Algo está mal… Será então a Zona Euro uma Área Monetária Ótima (AMO)? Uma área monetária é ótima se a mesma implica mais benefícios do que custos para os países membros. Será que isto se verifica no caso europeu? Será que quando a Zona Euro foi criada existia condições para tal? Para responder a estas perguntas importa esclarecer alguns pontos.
Segundo a Teoria das Áreas Monetárias Ótimas, uma área monetária para ser considerada ótima tem que apresentar várias características, sendo que a Zona Euro não as possui. Analisando o caso europeu vemos que existe pouca flexibilidade de preços e salários entre os países da Zona Euro. Verificamos também que existe pouca mobilidade do trabalho tanto entre os países como dentro dos próprios países (e sendo este ponto um fator importante para minimizar os choques nas economias, ficamos com a nítida ideia de que a Zona Euro não cumpre os requisitos de uma AMO). Para além disso a integração fiscal é
também reduzida e o grau de simetria dos choques económicos é bastante reduzido, ou seja, como os choques não são simétricos, a política monetária tem tudo para funcionar mal.
Estudos de Bayoumi e Eichengreen, em 1993, apontavam para a existência de um núcleo duro na Europa no qual os choques eram mais simétricos (França, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Holanda), isto é, estes países poderiam formar uma AMO, pois havia um nível elevado de semelhanças entre estas economias. Apesar disso, a EU-27 mostra grandes assimetrias de choques económicos. Posto isto é possível constatar que, de facto, a Zona Euro não é uma Área Monetária Ótima! Mais, quando a Zona Euro foi criada provavelmente não existiam condições para tal, pois vários países não estavam devidamente preparados para dar esse passo.
Como é óbvio, quando os líderes europeus estudaram a hipótese de criar uma área monetária comum já estariam alertados para esta realidade. Mas então, porque foi criada a Zona Euro? Bem, esta questão pode ser respondida de duas formas: a primeira hipótese é dizendo que apesar de se saber das grandes diferenças que existiam entre alguns países e das dificuldades que se sabia que poderiam existir, os responsáveis máximos da Europa acreditavam que era possível criar uma Europa ainda mais forte e unida, onde a união iria fazer a força, fazendo com que todos saíssem a ganhar. Com isto, estaria então solidificado o projeto Europeu; a outra hipótese é a Zona Euro ter sido criada por interesse dos países mais fortes, deixando um pouco de lado as consequências que daí poderiam advir para os países mais vulneráveis. Ou seja, os países ricos iriam tornar-se ainda mais ricos e fortes e os países com menos capacidade iriam ficar com ainda menos força.
Será melhor pensar e acreditar que o Euro foi criado tendo como base a primeira hipótese, mas a segunda hipótese não pode ser esquecida e, nos dias de hoje, já tudo é posto em causa e os interesses de uns podem tornar-se mais importantes do que a própria Europa… Talvez a resposta correta seja até uma mistura das duas coisas.


José Miguel Ferreira de Castro Lopes


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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