Encetemos a abordagem da matéria em análise relatando de forma sucinta o aparecimento da classe média em Portugal. Relativamente
a outros países ocidentais, Portugal peca por uma edificação tardia da sua
classe média, isto devido a atrasos na industrialização e na implementação do
seu regime democrático. Esta “nova classe” na sociedade portuguesa, que em 2010
representava cerca de metade da população, ergue-se através de um processo
célere e muito pouco sólido, maioritariamente devido à expansão do Estado
Social, no decorrer da década de 80, que transmitiu uma ideia de entusiasmo
direccionado para o consumo.
Com
a actual conjuntura económica portuguesa, há um risco iminente de um
empobrecimento muito rápido e consequentemente, como se tem feito notar nos
últimos tempos, um aumento em grande escala do descontentamento social. Neste
momento, os portugueses ganham menos, pagam mais impostos e o custo de vida não
para de aumentar. Todos apertam os cordões à bolsa, desde viagens, à compra de
casa própria e até na alimentação.
Os
hábitos da classe média estão a mudar. Isto deve-se principalmente à crise
actual, crise essa que se tem acentuado no nosso país, e principalmente nas
nossas carteiras, com sucessivos cortes salariais na função pública e aumento
de impostos de forma generalizada. Um estudo do Observatório Cetelem 2012 afirma que, relativamente
às classes médias de outros países, Portugal apresenta-se mais conservador no
que concerne ao consumo. Isto diz-nos que os portugueses estão cientes da
situação económica corrente e actualmente desviam mais dinheiro da despesa para
a poupança. O estudo diz que 55% da população que pertence à classe média tem
intenções de poupar mais este ano do que no ano anterior. A explicação é
simples: Portugal encontra-se no foco da crise desde o final do 1.º trimestre
de 2011, tendo sido especialmente afectado pela mesma no decorrer do ano de 2008, a par de países como
a Grécia e a Espanha.
Dos
portugueses de classe média, 70% assegura que a sua situação piorou no último
ano e cerca de metade afirma que teve de proceder a cortes no orçamento
familiar no que concerne a vestuário, lazer e combustíveis. Em menor
quantidade, mas ainda assim de forma considerável, cerca de um terço
confidenciou cortar em despesas de alimentação, 15% fazer cortes na saúde e 8%
na educação. Faz-se notar um movimento por parte dos portugueses que formam
esta classe que nos leva a crer que a única forma de sobreviver à crise será
cortar na despesa, pois estes não esperam aumentos nos seus rendimentos, bem
pelo contrário. Um aspecto também abordado sobre esta classe da população foi o
futuro dos seus filhos. Uma das grandes inquietações destas pessoas passa por
tentar proporcionar uma boa qualidade de vida e a possibilidade dos seus filhos
poderem frequentar o ensino superior. Cerca de 80% está disposto a fazer
sacrifícios pessoais para não diminuírem a despesa com os seus filhos.
Concluímos
assim que estamos perante um iminente empobrecimento nacional, ou seja, cerca
3,5 milhões de famílias portuguesas vivem à beira do “precipício” social. O
mais aterrador é que é deles que depende a economia.
Eugénio
Carlos Oliveira Castro
Sem comentários:
Enviar um comentário