Portugal encontra-se neste momento num processo de ajustamento financeiro com o objetivo de reduzir a sua dívida, estabilizar o seu défice e voltar a financiar-se nos mercados internacionais. Este processo de ajustamento, acompanhado pelo FMI, pela EU e pelo BCE (“troika”) tem-se revelado muito recessivo para a economia Portuguesa e muito negativo para o emprego e para a população. O governo tem como objetivo cumprir o pacto de estabilidade e crescimento, controlando portanto o défice e a dívida pública muito à custa da subida de impostos (IVA e IRS) e descida da despesa pública (corte de salários e pensões). Mas as derrapagens têm-se verificado no lado da receita visto que atividade económica tem diminuído. Como era de esperar no meio destes cortes, a procura interna tem diminuído consideravelmente, contribuindo para a queda do produto e do emprego. Apenas as exportações estão a atenuar este decréscimo do produto. A procura externa está a suportar a diminuição do peso da procura interna no PIB.
Diminuição do défice da Balança Corrente e de Capital
Desde a segunda guerra mundial que Portugal não regista um superavit na balança corrente e de capital. É possível que o volte alcançar em 2013. Entre Janeiro a Julho de 2012 o défice desta componente da balança de pagamentos diminuiu €7344,9 milhões comparativamente ao mesmo período do ano 2011 para agora situar-se nos €279,1 milhões. O défice da balança corrente e de capital passou de -8,5 em Jan-Jul de 2011 para -1,8 em Jan-Jul de 2012, em percentagem do PIB. Para este cenário contribuiu a redução significativa do défice da balança corrente (-9,3% para os -3,5%, nos mesmos períodos referidos anteriormente). De destacar a rubrica de bens da balança corrente, com uma diminuição do seu défice de €8505 milhões para os €4541 milhões.
Evolução das Exportações e Importações
Durante o processo de ajustamento financeiro tem-se verificado um crescimento das exportações portuguesas devido à diversidade dos destinos dos nossos produtos. Portugal até agora exportava mais para países intracomunitários, principalmente zona euro. Mas neste momento a diversificação dos seus destinos de exportação, com grande importância a China e países americanos, têm “alimentado” o crescimento das exportações, apesar de se ter verificado uma desaceleração no segundo trimestre de 2012. No primeiro trimestre de 2012 registou-se um aumento homólogo das exportações de 7,9% e no segundo trimestre um aumento de 4,3%. Esta diminuição deve-se, provavelmente, à perspetiva de recessão da zona euro e principalmente de Espanha, principal parceiro comercial português (-0,3% na AE 17), mas estima-se que as exportações voltem a crescer em 2013, ajuda dada pela possível recuperação económica da zona euro.
Quanto às importações estas têm vindo a diminuir fruto à diminuição do poder de compra da população portuguesa. Verifica-se a redução real dos salários dos trabalhadores, do aumento dos impostos ligados ao consumo e ao rendimento e o aumento do desemprego. Por conseguinte a procura interna diminuiu e as importações também. No primeiro trimestre de 2012 registou-se uma queda homóloga de 3,8% e no segundo trimestre uma queda homóloga de 8,1%, motivada pelo agravamento da recessão económica do país.
Impacto da Procura Externa e Interna no PIB
Neste momento a procura externa tem conseguido evitar o avolumar da recessão. No primeiro semestre de 2012 o PIB decresceu em termos homólogos 2,3%, por força da diminuição da procura interna em 6,4% e aumento da procura externa líquida de 4,1%. Já no segundo semestre o PIB caiu 3,3% em termos homólogos motivado pelo decréscimo da procura interna de 7,9% e o aumento da procura externa de 4,7%. Neste último semestre o maior impacto negativo sobre a procura interna foi o investimento. No segundo trimestre de 2012 registou-se uma variação homóloga de -18,7% no investimento, seguido por uma variação homóloga de -5,9% no consumo privado e por fim por uma variação homóloga de -3,9% no consumo público. Em relação à procura externa líquida foi a diminuição das importações de bens que tiveram o maior impacto positivo, com uma variação homóloga no segundo trimestre de 2012 de -9,4%, ao contrário dos -4,5% do semestre passado. As exportações de bens também deram um bom contributo com uma variação homóloga de 6,1%, apesar da queda em relação ao primeiro semestre de 2012, que foi de 9,7%. Há portanto uma convergência dos pesos da procura interna e da procura externa em relação ao PIB. Mas o peso das exportações no PIB ainda é relativamente pequeno, pela ordem dos 37 ou 38 porcento.
Durante este processo têm-se aplicado algumas reformas estruturais com vista a dar fim a alguns desequilíbrios da economia portuguesa. Um desses desequilíbrios é o défice crónico das balanças comerciais. Portugal poderá conseguir um saldo positivo na balança corrente e de capital já em 2013, algo nunca visto desde a segunda guerra mundial. O problema é que esse saldo positivo é ainda temporário porque o peso das exportações em relação ao produto ainda é pequeno. Seria necessário um maior esforço no sentido de exportar mais, diversificar as zonas comerciais, principalmente países emergentes, e criar incentivos ao tecido empresarial para se virar para o mercado externo. As medidas já aplicadas pelo governo com esse objetivo têm sido insuficientes ou ineficazes pois é necessário uma reforma estrutural neste sector ainda não realizada. Portugal é ainda um país essencialmente produtor de bens não transacionáveis (construção civil e serviços), virados portanto para o mercado interno. Logo a recessão “atacou” este sector e por isso é que verificamos este aumento do desemprego. Com a inflação dos salários à alguns anos atrás, não acompanhada pelo aumento da produtividade no sector transacionável, levou a uma deterioração deste mesmo sector. Neste momento está se a verificar um aumento de empresas viradas para o mercado externo mas que enfrentam um problema sério de falta de financiamento.
O combate do governo deveria começar por ai, dando os apoios financeiros para estas empresas, muitas delas ainda de pequena dimensão. Com a diminuição da procura interna muitas empresas que produziam para o mercado interno começaram a voltar-se para fora para evitarem a falência. Isto tudo não quer dizer que temos de trocar o mercado interno pelo mercado externo. Aliás isso seria impossível. Mas é possível reduzir o peso do mercado interno no PIB aumentando as exportações estruturalmente. É que neste momento se houvesse uma recuperação económica as importações aumentariam, podendo cobrir o crescimento das exportações e lá se ia o esforço de diminuir a nossa divida externa. O nosso país tem grandes potencialidades e isso é um facto, agora é preciso dar os incentivos certos a quem realmente necessita e não dar, como o temos vindo a fazer, a grandes empresas e ao sistema financeiro.
Bruno Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário