domingo, 14 de outubro de 2012

Dominação Económica

Para combater a crise internacional, os países ricos estão a obrigar os pobres a cometerem suicídio económico. As medidas que impõem a estes países, a médio/longo prazo, vão favorecer a instalação de um círculo vicioso da pobreza, como era definido pelo economista americano W. W. Rostow. Na verdade, são obrigados a reduzir, drasticamente, o défice orçamental e a dívida pública, pela obtenção urgente de receitas e redução de despesa, como condição para obterem financiamentos. Normalmente, isso é feito através do corte no investimento público e da redução das disponibilidades financeiras dos particulares e das empresas, através da aplicação de sucessivos e cumulativos impostos e da redução, em termos nominais e reais, de salários.
Ora, o investimento público produtivo, poderia ser um factor de dinamização da actividade económica como, por exemplo, a construção de infra-estruturas poderia permitir o desenvolvimento de novas actividades e favorecer o investimento, quer nacional quer estrangeiro. Por outro lado, quando se reduzem, drasticamente, as disponibilidades financeiras dos particulares e empresas, a médio e a longo prazo, vai-se obter uma recessão económica, uma vez que a austeridade não leva ao crescimento. As empresas deixam de investir, reduzem a produção ou vão à falência, com o consequente despedimento dos trabalhadores. Por outro lado, como não obtêm lucros, não pagam os impostos ao Estado (que verá a sua receita reduzida e, consequente, défice orçamental). Os particulares, por sua vez, como não têm dinheiro, deixam de comprar produtos ou serviços, mais agravando a situação das empresas que não têm a quem vender. Acresce que deixarão de pagar impostos ao Estado e, eventualmente, aumentarão a despesa do mesmo (subsídios, entre outros).
Uma tal situação torna-se propícia ao desenvolvimento da economia paralela, ou seja, o conjunto de actividades que não são registadas oficialmente, isto é, escapam à Contabilidade Nacional, como, por exemplo, o contrabando. O Estado vê a sua despesa aumentar e as receitas a diminuírem e mais ficará dependente do financiamento estrangeiro.
Nesta situação de dependência, é “obrigado” celebrar contractos ruinosos e privatizar quase tudo – situação que implica um aumento da dependência externa do país e leva a um esvaziar de receitas, uma vez que a riqueza passa a ser transferida para o exterior. Por imposição da troika, reprivatizou-se, ruinosamente, o BPN e procedeu-se à venda da posição do Estado na EDP. Estão a decorrer as privatizações da TAP, ANA, Estaleiros Navais de Viana, entre outras, que se seguirão. Ora, como é bem evidente, os únicos beneficiados desta situação serão os países ricos.
Nestes últimos anos, com base na crise internacional que teve a sua origem nos países ricos (vejamos a crise económica de 2008-2012 nos EUA, que foi um desdobramento da crise financeira internacional precipitada pela falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850), verifica-se que esses países, rapidamente, vêem a sua situação económica melhorada, com crescimentos económicos sustentados, com base no empobrecimento gradual dos países pobres. O próprio FMI, um dos elementos da troika que presta “ajuda” a Portugal, veio reconhecer que errou na sua avaliação dos efeitos da austeridade sobre o desenvolvimento económico e equilíbrio orçamental.
Na verdade, a excessiva austeridade, faz a economia entrar em recessão, o desemprego aumentar e, em última análise, vem pôr em causa o objectivo que se pretendia alcançar – reduzir o défice e a dívida pública. Efectivamente, se o PIB diminui, mais difícil, senão impossível, se torna cumprir os objectivos de redução do défice, que se exprimem em percentagem desse mesmo PIB. Do que vem de ser exposto, se conclui que, para combater a crise, os países ricos, neste caso representados pela troika, estão a obrigar os pobres a cometerem suicídio económico, caindo num círculo vicioso de pobreza.

Cláudia Miriam de Sousa Barros

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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