sábado, 13 de outubro de 2012

A poupança das famílias portuguesas

A poupança em Portugal nunca atingiu níveis muito elevados: desde 1970, a taxa de poupança foi sempre inferior a 20% do rendimento disponível. Houve apenas um período em que superou esta taxa, entre 1987-1990.
Nas últimas décadas, a taxa de poupança tem apresentado uma forte e contínua queda, contribuindo para os desequilíbrios económicos que tiveram como reflexo a crise da dívida soberana. Geralmente, os países que apresentam elevados défices e dívidas externas têm tendência a ter taxas de poupança decrescentes.
A adesão à CEE trouxe a Portugal um forte crescimento económico, fazendo com que o nível de vida dos portugueses convergisse para o nível de vida médio europeu. Outra das características deste período é o desenvolvimento do sistema financeiro português e a estabilização nominal da economia portuguesa, com a redução das taxas de juro e da taxa de inflação.
As famílias e as empresas aproveitaram as possibilidades e aumentaram fortemente o seu endividamento, pois esperavam que este período de convergência de Portugal com os países mais ricos continuasse. Com isto, os portugueses baixaram as suas taxas de poupança desde finais do 1980. As famílias reduziram o seu contributo em 80% e as empresas em 20%. A grande queda da taxa de poupança nacional deu-se, então, entre 1980 e 1990: o sistema financeiro português desenvolveu-se muito neste período, o que possibilitou mais facilidade de acesso ao crédito. As famílias fizeram uso dessa maior facilidade, porque pensavam que seriam capazes de cumprir as obrigações decorrentes do acesso ao crédito. Com isto, o consumo dos particulares em Portugal aumentou de forma acentuada, enquanto que a taxa de poupança baixou de 24% do rendimento disponível em 1985 para 10% em 1990. Entre 2005-2008, a taxa de poupança chegou a ser de 7%, resultado do aumento da taxa de juro. As famílias responderam com uma diminuição da poupança em vez de diminuírem o consumo.
Um dos outros aspetos da poupança em Portugal é a sua concentração: quase 90% da poupança das famílias portuguesas é feita por apenas 20% dessas famílias. As famílias que mais poupam chegam a atingir uma taxa de poupança de 50% do rendimento. Por oposição, 30% de famílias apresentam poupança negativa. Dos vários agregados familiares, são os reformados os que poupam mais (+20%).
Portugal foi e continua a ser dos países da União Europeia que menos poupa. O acesso excessivo ao crédito por parte de muitas pessoas que se verificou fez com que Portugal chegasse ao ponto que está: com um défice externo e uma dívida pública que implicam um grande esforço por parte de todos os portugueses para melhorar a situação do país.

Mónica Amaral 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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