A poupança em Portugal nunca
atingiu níveis muito elevados: desde 1970, a taxa de poupança foi sempre inferior a
20% do rendimento disponível. Houve apenas um período em que superou esta taxa,
entre 1987-1990.
Nas últimas décadas, a taxa de poupança tem apresentado
uma forte e contínua queda, contribuindo para os desequilíbrios económicos que
tiveram como reflexo a crise da dívida soberana. Geralmente, os países que
apresentam elevados défices e dívidas externas têm tendência a ter taxas de
poupança decrescentes.
A adesão à CEE trouxe a Portugal um
forte crescimento económico, fazendo com que o nível de vida dos portugueses
convergisse para o nível de vida médio europeu. Outra das características deste
período é o desenvolvimento do sistema financeiro português e a estabilização
nominal da economia portuguesa, com a redução das taxas de juro e da taxa de
inflação.
As famílias e as empresas aproveitaram as
possibilidades e aumentaram fortemente o seu endividamento, pois esperavam que
este período de convergência de Portugal com os países mais ricos continuasse.
Com isto, os portugueses baixaram as suas taxas de poupança desde finais do
1980. As famílias reduziram o seu contributo em 80% e as empresas em 20%. A
grande queda da taxa de poupança nacional deu-se, então, entre 1980 e 1990: o
sistema financeiro português desenvolveu-se muito neste período, o que
possibilitou mais facilidade de acesso ao crédito. As famílias fizeram uso
dessa maior facilidade, porque pensavam que seriam capazes de cumprir as
obrigações decorrentes do acesso ao crédito. Com isto, o consumo dos
particulares em Portugal aumentou de forma acentuada, enquanto que a taxa de
poupança baixou de 24% do rendimento disponível em 1985 para 10% em 1990. Entre
2005-2008, a
taxa de poupança chegou a ser de 7%, resultado do aumento da taxa de juro. As
famílias responderam com uma diminuição da poupança em vez de diminuírem o
consumo.
Um dos outros aspetos da poupança
em Portugal é a sua concentração: quase 90% da poupança das famílias
portuguesas é feita por apenas 20% dessas famílias. As famílias que mais poupam
chegam a atingir uma taxa de poupança de 50% do rendimento. Por oposição, 30%
de famílias apresentam poupança negativa. Dos vários agregados familiares, são
os reformados os que poupam mais (+20%).
Portugal foi e continua a ser dos
países da União Europeia que menos poupa. O acesso excessivo ao crédito por
parte de muitas pessoas que se verificou fez com que Portugal chegasse ao ponto
que está: com um défice externo e uma dívida pública que implicam um grande
esforço por parte de todos os portugueses para melhorar a situação do país.
Mónica Amaral
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