quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Vende-se Portugal

   Aquando da assinatura do memorando com a troika, o governo português foi forçado a empenhar-se a executar um conjunto de medidas na área orçamental, especificamente de prestação de serviços públicos no sentido de redirecionar as contas públicas para a sustentabilidade. Deste modo, o memorando assinado promove a projeção de um novo programa de privatizações com o intuito de reduzir o peso do Estado na economia e aprofundar a integração europeia por via da abertura de capital das empresas ao investimento estrangeiro. O argumento preponderado do governo português e da troika consiste no facto de as alienações das participações públicas nas empresas proporcionarem o acesso ao financiamento externo sem incorrer em endividamento extraordinário, bem como o aumento da competitividade e eficiência das mesmas empresas no longo prazo.
   Todavia esta política de privatizações surge como uma ordem do exterior, o que relacionado com a circunstância do governo se situar à direita no espectro político e com valores liberalizantes, faz com que seja levada a cabo uma política liberal de tentativa de retirar o Estado da maior parte das atividades económicas, privatizando assim de forma bastante controversa as empresas relacionadas com o acesso a bens fundamentais, como a água e a eletricidade.
   Focando-nos agora no plano, o governo tenciona fazer a alienação das participações públicas na EDP, REN, GALP e TAP, bem como nas Águas de Portugal e RTP. A venda da CP Carga, Correios de Portugal, Caixa Seguros e Aeroportos de Portugal está também prevista no plano para 2013. Foram já assinadas as privatizações de REN e EDP a empresas chinesas e árabes, o que permitiu ao Estado português encaixar, desde já, 60% do total previsto no contexto do plano de privatizações.
   É de interesse observar que são os países emergentes que se dispõe a ajudar o nosso país. Ajuda essa que não é inocente, pois “não existem almoços grátis”. Os grupos económicos interessados na privatização das “nossas” empresas vão pressionar a exportação dos nossos recursos, pois basta-lhes exigir aos administradores para aumentar a rentabilidade, o que conduzirá a tensões inflacionistas, coibindo-nos de disfrutar do que devia ser nosso. As decisões sobre os preços dos bens essenciais à nossa sobrevivência, serão tomadas pelos donos de grupos económicos que dificilmente saberão como pronunciar o nome do nosso país, estando assim a população sujeita à ganância e necessidades próprias dos governadores económicos.
   Recentemente chegou à esfera pública a discussão sobre a privatização da CGD. O que há pouco tempo se dizia politicamente inexequível e utópico, é hoje uma realidade presente nas ideias de Pedro Passos Coelho e do seu governo. A saída do Estado da economia, despindo-o assim de poderes e competências de intervenção em setores fulcrais na economia é, para o governo, a melhor forma de resolver os problemas estruturais existentes há muitos anos no nosso país. Quem irá emprestar dinheiro às PME’s para sobreviverem quando a restante banca lhes negar o acesso ao crédito?
   Finalizado o processo de privatizações, resta-nos acreditar que a regulação dos diversos setores será levada a cabo de maneira eficaz, proporcionando benefícios para todos nós, o que aliado ao encaixe financeiro agora realizado permita ao nosso Portugal respirar um pouco melhor.

Francisco Moura

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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