sexta-feira, 19 de outubro de 2012

(Re)começar Portugal?

No passado dia 3 de Outubro, o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, veio a público anunciar mais um “pacote” de medidas de austeridade. No decorrer do anúncio, Vítor Gaspar disse que apesar de Portugal estar no bom caminho para a recuperação económica necessita, ainda assim, de antecipar as medidas previstas para 2013 com o objectivo de cumprir os limites do défice (revistos no início de Setembro de 2012) acordados para o ano de 2012 com a Comissão Europeia (CE), o Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI), isto é, a Troika que todos nós conhecemos.
Desde que a Troika e o Governo acordaram um plano de resgate estrutural, os sacrifícios foram sempre impostos aos cidadãos portugueses em primeira instância.
Os portugueses têm sido confrontados com a obrigação de ajustar os seus níveis de consumo e, como é claro neste ponto, as medidas de austeridade estão a diminuir em grande escala o nosso poder de compra tornando, assim, óbvio o abrandamento das importações. Impõe-se, por sua vez, a manutenção ou até mesmo o aumento do nível das exportações para que as indústrias consigam resistir à crise. O tecido empresarial português sente-se, mais do que nunca, obrigado a aumentar a concorrência, assim como a inovar os seus processos produtivos. Pode verificar-se, portanto, que as medidas beneficiaram o mercado português, isto é, aumentou-se a concorrência e a melhoria dos processos produtivos, o que por sua vez leva a uma diminuição dos custos e preços de venda ao público.
Sendo assim, porque continua o povo português em condições tão precárias se as medidas beneficiam o país?
As medidas até poderiam beneficiar o país se a carga fiscal não incidisse no preço de venda dos produtos, assim como nos rendimentos dos trabalhadores (que perderam direitos adquiridos ao longo dos anos com muito sacrifício, o que acho inaceitável). Isto porque se as empresas diminuem os custos e aumentam os impostos sobre os produtos, os preços não poderão diminuir; com sorte, os preços irão manter-se.
Dentro do previsto, Portugal está a cumprir com as metas traçadas... Até o próprio governo acredita num potencial regresso de Portugal aos mercados de emissão de dívida em Junho de 2014, momento em que a Troika abandona o país. Não se consegue compreender o porquê de mais medidas de austeridade se tudo corre de feição.
Não falando dos compadrios que sempre irão existir, exige-se que o governo reduza os seus gastos e que não aumente as receitas à custa dos trabalhadores que trabalham diariamente e que não conseguem usufruir da totalidade do seu salário.
A Segurança Social é algo que também começa a dar que pensar às famílias portuguesas. Actualmente, o número de desempregados está a atravessar um crescimento exponencial, passando dos 8% em 2007 (ano em que a crise financeira começou) para os 16% previstos em 2012, isto representa um aumento de 100% do desemprego em Portugal nos últimos 5 anos. Desta forma, conjugando os valores dos subsídios atribuídos aos desempregados, aos funcionários públicos (que representam 21% dos gastos totais do estado) e dos aposentados, como será possível aguentarmos?
Como será possível um país resistir com tantas famílias a depender do Governo?
Pois bem, acho que chegamos ao ponto de viragem. Portugal está completamente do avesso e ninguém tem coragem de tomar uma medida. Os Deputados da Assembleia da República, que deveriam defender os interesses dos cidadãos nacionais, preocupam-se apenas com o seu bem-estar indo jogar golf com tudo pago pelo Governo. O Presidente da República refugia-se no seu poder para não destituir um Governo que já não consegue fazer mais nada. Quanto ao Primeiro-Ministro não tem pulso nas suas decisões e passa o tempo em avanços e recuos relativamente às medidas a aplicar.
Assim sendo, posso concluir que Portugal deveria parar para pensar. As coisas estão mal e não o podemos negar. Se assim é, porque é que não se constrói um país de novo em vez de se tentar remediar o que está mal?

Fátima Raquel Sampaio

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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