quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Portugal: um país de ouro

No atual contexto de crise económica e financeira, qualquer cidadão atento, quando passa pelas ruas do nosso país, encontra o seguinte anúncio: “Compro e vendo ouro usado”.
Na realidade, este é um facto que se tem vindo a verificar com elevada frequência e, de acordo com notícias recentes, duas novas lojas de ouro abriram, por dia, no primeiro trimestre deste ano, em Portugal. Estes acontecimentos podem ser explicados graças à apreciação da cotação do ouro, cujo preço nos mercados internacionais quintuplicou na última década.
As reservas de ouro do Banco de Portugal correspondem a 382,5 toneladas e valem, atualmente, 16300 milhões de euros, o que equivale a 7,5% da dívida pública portuguesa.
De acordo com números do WGC (Organização Internacional de Empresas do Setor do Ouro) e com base em dados do FMI, as reservas de ouro de Portugal são, atualmente, as décimas quartas maiores do mundo. No entanto, como a lista do WGC inclui as reservas do FMI e do Banco Central Europeu, em todo o mundo, só onze estados têm mais ouro do que Portugal.
De facto, é em Portugal que o ouro tem mais peso no total das reservas monetárias: 91,5%, uma vez que, na generalidade dos outros países, grande parte das reservas é constituída por divisas estrangeiras. Ironia do destino (ou não), só existe mais um país em que as reservas de ouro constituem mais de 80% das reservas monetárias: a Grécia (83,3%).
Há quem pense que, se Portugal possui tão elevadas reservas em ouro, estas poderiam ser a “salvação” do nosso país. No entanto, as coisas não funcionam dessa forma. Os acordos internacionais subscritos pelo Banco de Portugal limitam a quantidade de ouro que este pode vender, por ano. Para além disso, há outras limitações legais que impedem a utilização das reservas para pagar défices orçamentais. Contudo, como foi referido anteriormente, mesmo que o ouro pudesse ser usado diretamente para o financiamento do Estado, este teria um impacto relativamente reduzido.
Recorrendo a outras comparações, as reservas de ouro valem pouco mais de um quinto do Programa de Assistência Financeira acordado com a Troika e é também pouco superior ao valor que o Governo tenciona gastar, este ano, em despesas com pessoal da Administração Pública (15310 milhões de euros).
Ainda assim, as exportações de ouro aumentaram exponencialmente nos últimos cinco anos e esse aumento não parece dar, ainda, sinais de abrandamento. Entre Janeiro e Junho deste ano, as empresas portuguesas exportaram mais de 382 milhões de euros em ouro, segundo o INE.
Como sabemos, nos últimos dois anos, as famílias portuguesas têm sofrido consecutivas medidas de austeridade que limitaram o seu rendimento disponível. Desta forma, o preço mais elevado do ouro tornou-se um forte incentivo para as famílias que atravessam dificuldades se desfazerem das jóias que possuem.
Concluindo: o ouro continua a brilhar nos mercados internacionais e Portugal não é exceção.

Susana Cristina Moreira de Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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