Todos
os dias ouvimos dizer que as exportações são a saída da crise e que o seu
comportamento tem vindo a superar todas as expectativas. Para quem segue os
meios de informação económica em Portugal, o tema tem sido amplamente exposto e
debatido. A questão é até que ponto o ajustamento externo português se está a
conduzir pelo aumento das exportações ou pela redução das importações.
Admitir
que as exportações se estão a comportar de forma excecional como tem vindo a
ser, repetidamente, vendido pela comunicação social, leva-nos a crer que
Portugal tem conseguido sobressair na conjuntura internacional como um novo
tigre asiático numa versão europeia. Na verdade, olhando para os dados da
Organização Internacional do Comércio e comparando com os dados do Banco de
Portugal, verificamos que o crescimento das exportações (-10,9%-2009; 8,8%-2010;
7,4%-2011) não tem superado significativamente o crescimento do comércio
internacional (-12%-2009; 13,8%-2010; 5%-2011). Analisando ano a ano,
verificamos que, se em 2009 Portugal regrediu menos do que as trocas
internacionais, em 2010 o resultado inverte-se, possivelmente pela menor
rapidez de ajustamento aos choques externos da economia portuguesa. De facto,
Portugal tem vindo a superar os resultados internacionais desde 2011, contudo
este facto pode ser, em parte, explicado pela recessão interna e pelo
deslocamento da oferta do mercado interno para o mercado externo. Isto
significa não só que Portugal não tem vindo a ganhar cota nos mercados
internacionais, como, também, que está significativamente exposto às flutuações
do comércio internacional.
Ora, se
as nossas exportações têm seguido, grosso modo, as flutuações internacionais,
podemos acreditar que não resistirão no momento em que a atividade
internacional recue. Acreditando nestes dados, e constatando a entrada dos
nossos principais parceiros comerciais em processos de consolidação orçamental
e, consequentemente, em contração no seu mercado interno, podemos antever a
diluição da força exportadora que se verificou nos últimos anos, algo que, de
resto, já é possível observar. Os esforços de deslocação da oferta para os
mercados emergentes têm sido notórios, são bem-vindos, mas não é credível que
sejam capazes de suportar o agregado quando países como a Espanha, que
representa 25% da procura externa, entrarem em recessão.
Especular
sobre a evolução das exportações portuguesas leva-nos a tocar no investimento e,
em particular, no investimento em empresas exportadoras. Embora tenha vindo a
aumentar o crédito a este tipo de entidades, ele representa apenas cerca de 5%
do crédito total disponibilizado pelo sector financeiro, nos últimos anos, e
mesmo décadas. Com um nível tão baixo de investimento neste sector exportador,
e com os aumentos de produção que tem tido, não é difícil imaginar que
estaremos próximos dos limites da capacidade produtiva destas empresas.
Passando
a uma análise dos dados existentes, sobre o comportamento das exportações, este
ano verifica-se que têm vindo a ser sustentadas de forma consistente pelos
Lubrificantes e combustíveis, com um crescimento 44%. Tendo em conta que
Portugal conta com apenas uma empresa a realizar refinação e exportação de
produtos refinados, a partir das duas refinarias existentes, compreendemos que
tal como no mercado interno, no mercado externo, Portugal mantém uma economia
extremamente cefálica.
Ao
contrário das exportações, que não são controladas diretamente pela ação dos
agentes internos, as importações refletem de forma no mínimo interessante o
comportamento destes agentes perante a conjuntura. Assim, analisando os dados
do Banco de Portugal constatamos que os portugueses decidiram conter de forma
significativa a despesa em bens duradouros, sendo que, destes, o material de
transporte, onde se inclui os automóveis, reduziu mais de 25% em termos
homólogos até julho.
Outra
componente das importações a sofrer uma forte contração é, previsivelmente, os
bens de consumo final. Embora com menor expressão do que a rubrica anterior, as
importações deste tipo de bens contraíram-se 4,8% no primeiro semestre,
seguindo a contração do consumo interno. Curiosamente, no meio de uma
diminuição global de 5,6%, há uma rúbrica que revela um crescimento
significativo, trata-se novamente dos combustíveis e lubrificantes, com um
crescimento de 13% e, obviamente, fortemente suportados pelo aumento de 44% das
exportações desta rubrica. Algo que realça o efeito acumulado de redução das
outras componentes.
Embora
se possa argumentar que em termos relativos as exportações tenham vindo a
crescer mais do que as importações, é importante recordar neste tipo de análise
que, em termos nominais, a contração verificada nas importações é semelhante ao
aumento das exportações. E este facto não é de somenos importância já que o
diferencial entre os dois agregados era de cerca de metade do valor das
exportações no ano passado.
Concluímos
assim que o processo de ajustamento português está fortemente dependente das
vaiáveis externas, e que apesar do esforço de deslocação das exportações para
fora da UE, somos especialmente dependentes dos nossos parceiros comerciais
europeus e da evolução do seu mercado interno. A evolução das exportações deve
ser louvada, contudo, segue um padrão mundial sem se evidenciar de todo a nível
global. O nosso tecido produtivo continua extremamente cefálico com um reduzido
número de empresas a concentrarem uma componente muito significativa do bolo
das exportações e a absorverem uma fatia excessiva do crédito disponível,
impedindo investimentos no aumento da capacidade produtiva. Para além dessa
componente externa, há um violento processo de ajustamento interno com uma
redução brutal do consumo, que tem contribuído pelo menos de forma tão intensa
como as exportações para a diminuição do nosso défice externo.
Hugo Pereira
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