quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Agências de ´Rating` – o início da crise financeira

As agências de rating surgiram com a necessidade de manter um devedor informado dos seus empréstimos durante um período de tempo, já que a população não tem meios suficientes para calcular as assimetrias de informação do mercado, que poriam em causa os seus investimentos. 
As agências avaliam a capacidade de uma empresa amortizar as suas dívidas no prazo estabelecido. Até que ponto estas avaliações são consideradas eficientes e viáveis?
 A garantia da qualidade dos rating está diretamente relacionada com a credibilidade das agências. Se as empresas continuassem a aumentar as expectativas da viabilidade destas avaliações, estas de facto iriam ser consideradas credíveis por muito mais tempo. Mas afinal como é que as agências de rating constroem a sua credibilidade?
A possibilidade de free-riding por parte de outras entidades em obter facilmente a informação reunida pelas agências conduzia uma nova emissão de informação e manutenção de investimentos antigos. As adversidades levaram à avaliação de todos os títulos e por isso a necessidade de que as agências avaliassem a maioria desses títulos no mercado.
Tal como diz João Rodrigues, investigador da Universidade de Coimbra, “ As agências de rating detêm um grande poder e são verdadeiros atores políticos. (…) Constituem uma espécie de arquitetura informacional dos mercados financeiros. Não é possível concebê-los sem elas.”
A Moody’s, Fitch e Standard têm uma grande influência numa empresa ou país na medida em que quanto melhor a avaliação de um ativo maior é a facilidade de acesso ao crédito a custos menores. Por isso, se as emissões das empresas forem consideradas de baixo risco, maior é a sua facilidade de investimento.
Antes de “rebentar” a crise financeira, as agências americanas (Moody’s, Fitch e Standard) estavam rodeadas de suspeitas quanto à eficácia de estimar a probabilidade de default, às avaliações sub-óptimas resultantes da forte intervenção do Governo, à suposta exigência de maiores pagamentos por melhores avaliações às empresas devido à obrigatoriedade da avaliação dos ativos, etc. Estes métodos de funcionamento são considerados perversos e podem gerar conflitos de interesse.
O estudo realizado pelo jornal El País confirma isso mesmo: “Existem conflitos de interesses entre os bancos e as agências de notação financeira que parecem alterar o processo de classificação. (…) As agências de rating dão classificações sistematicamente melhores aos bancos que lhes fornecem grande quantidade de negócio”
As agências de rating protegem-se através de órgãos reguladores e por isso a sua punição é inexistente. Estas usaram argumentos de que os novos produtos avaliados eram demasiado complexos e que impossibilitavam um bom julgamento, mesmo que estes tenham grande probabilidade de default.
As avaliações excessivamente otimistas levaram a que os investidores acreditassem cada vez mais nos ratings publicados, impossibilitando assim um comportamento cauteloso. As várias medidas de barreiras à entrada levaram a sérias perturbações no equilíbrio de mercado e por isso à génese de grandes problemas e ao afundamento da economia mundial.
As agências de rating contribuíram para o surgimento da crise financeira, na medida em que desempenharam um papel central na descoberta de que as empresas estavam livres de incentivos que as conduziam a comportamentos disfuncionais.

Jéssica Abreu

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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