sábado, 13 de outubro de 2012

Implicações sociais da crise económica portuguesa

Há quase um ano e meio, desde 17 Maio de 2011, foi acordado um empréstimo a Portugal de uma quantia de 78 bilhões de Euros (dois terços dos quais são subsídios da U.E. e um terço de F.M.I.), com o propósito de salvar o país de um défice financeiro. A economia portuguesa continua a passar por uma grave crise financeira e macroeconómica, que está a ter graves consequências no plano social, especialmente por causa do programa de austeridade rigorosa imposta pela Troika e aplicada com rigor por um governo conservador liderado por Pedro Passos Coelho. Os 78 bilhões de Euros oferecido pela comunidade internacional vão durar até Setembro 2013. Então não sabe o que vai acontecer. 
De fato, de acordo ao OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico), o Produco Interno Bruto (PIB) de Portugal perderá 3,2 pontos percentuais em 2012 e um ponto percentual em  2013. De acordo com dados fornecidos em Junho deste ano pela AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), a dívida pública portuguesa ultrapassou um recorde de 180 bilhões de Euros em 2012. Além disso, o governo de Passos Coelho introduziu medidas que reduziram o pessoal da administração pública, aumentou as exigências para atingir a idade de aposentadoria e reduzir redes de segurança social. Outra medida aprovada pelo Governo Português tem sido um aumento da carga fiscal, principalmente devido ao IVA em certos setores de necessidades, tais como serviços de água e de gás, dos alimentos, de gasolina e de transportes públicos. A implementação do programa do governo de austeridade, combinado com a crise económica, provocou uma contração do PIB por habitante de 0,2% em 2012 (15.500 Euros cada ano).
“Os portugueses estarão extintos em 2204?”. Com este título deliberadamente provocatório e exagerado, de 9 de Julho de 2012, o jornal Português “Expresso” queria chamar a atenção para uma série de dinâmicas sociais relacionadas com a crise: o declínio da população, o declínio na imigração e a emigração crescente de jovens.
Em 2011, o país tinha 97 mil nascimentos, isto é, o número mais baixo das últimas décadas. Esta quantia pode cair ainda mais em 2012 e chegar a 89 mil. É claro que a crise adiciona a uma tendência negativa, que nos últimos anos tem vindo a consolidar em muitos outros países europeus, como a Espanha e a Itália. O declínio da imigração foi causado mais do que pela escassês de trabalho, que ocorreu em Portugal com a crise econômica, também pela alta demanda de mão de obra dos mercados de trabalho de países como: Brasil e Angola. Depois que Portugal foi, por vários anos, o país eleito por trabalhadores provenientes principalmente de países lusófonos, desenvolveu uma reversão dos fluxos migratórios. De fato, nos últimos anos muitos imigrantes preferiram retornar a seus países de origem. O desemprego combinado com a política de austeridade gerou também uma emigração maciça dos próprios portugueses: estima-se que nos primeiros seis meses deste ano, 150 mil portugueses também foram para o exterior em busca de trabalho, muitos dos quais são trabalhadores altamente qualificados,  especialmente em ex-colônias.
Dos dados disponíveis, podemos ver que, desde 2000, o número de emigrantes portugueses foi sempre crescente. Em 2007, sofreu um revés e uma ligeira diminuição, recuperando até subir muito para atingir um número de cerca de 150 mil em 2011.
150.000 emigrantes num só unico ano é um volume que está próximo dos valores record registados em 1969 e 1970, quando em Portugal não se vislumbrava o declínio da ditadura de Salazar, nem o fim da guerra colonial. O impacto social da crise é mais evidente na taxa de desemprego, que em 2012 atingiu 15,5% da população em idade ativa, registando um aumento de quase 3% em relação ao ano anterior. De acordo com os dados fornecidos pela AICEP, nos primeiros seis meses de 2012 foram perdidos mais de 100 mil postos de trabalho e no segundo semestre do ano serão perdidos outros 40 mil.
O aspeto mais preocupante é sobre o desemprego juvenil, que excede 35% entre os menores de 25 anos. O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, consciente da importância crescente dos subsídios de desemprego sobre os esforços para cortar custos e alcançar as metas rigorosas orçamentais fixadas pelo resgate, pediu que os professores desempregados considerassem todas as alternativas no mercado de trabalho de idioma português.
Outra consequência grave da crise reside no aumento das tensões sociais, tornada visível pelo tamanho das greves gerais chamadas durante o ano pelos principais sindicatos do país, para protestar contra a reforma do mercado de trabalho, a política de austeridade económica, a redução das redes de segurança social e a reforma do sistema de pensões, aprovada pelo Governo Português. É de alguns dias atrás a notícia de que a CGTP, o maior sindicato do país, declarou que no próximo 14 de Novembro fará uma greve geral para protestar "contra a exploração e empobrecimento" da população.
A difícil situação económica e financeira de Portugal é um fenômeno complexo relacionado com as dinâmicas sociais igualmente complexas que vão desde o declínio demográfico até à menor imigração; pelas difíceis condições de vida da população até ao risco de aumento das tensões sociais; da precariedade dos jovens até o enfraquecimento do welfare state. O geral empobrecimento da maioria da população portuguesa, acompanhada da dificuldade crescente (especialmente dos jovens) em encontrar um emprego e do agravemento das condições do walfere state, pode aumentar as divisões e as tensões sociais no país, e minar a estabilidade política do governo Lusitano. O desafio do país de sair da crise da dívida pode ser agravado  com a saída de trabalhadores qualificados. Além disso, o duro programa de austeridade lançado pelo governo lusitano, para o momento, não parece ter alcançado os resultados desejados. 

Vincenzo Pepe

Referências:
Luciano Amaral, Economia Portuguesa. As Últimas Décadas, Fundação Francisco Manuel Santos, Lisboa, 2010. 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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