As
estruturas organizacionais das empresas vão-se desenvolvendo com o decorrer do
tempo para que seja possível torná-las mais eficientes e mais competitivas e,
consequentemente, mais rentáveis.
Um
factor para estas alterações é o desenvolvimento tecnológico que tem um papel
preponderante devido à substituição de vários trabalhadores por uma máquina que
faz o mesmo serviço e por um custo de produção inferior.
Outro
factor é o dos problemas diários que se verificavam ou poderiam vir a verificar
como, por exemplo, o demorado processo de comunicação desde a classe operária
até ao topo da hierarquia. Imagine-se que um operário revelava ao seu superior
uma ideia de potencial melhoramento do processo de produção que estava a ser
usado, depois o superior comunicava ao seu superior e assim consecutivamente
até chegar ao presidente da organização que iria estudar a ideia e dar o seu
aval e então far-se-ia o caminho inverso até que fosse implementada esta
melhoria. Contudo, existe o risco de aquela ideia muito promissora deixar de o
ser durante o seu longo percurso até à sua implementação devido ao adiantamento
de uma empresa rival que surgiu primeiro.
Assim
sendo, assistiu-se numa fase mais inicial das alterações aos estreitamentos das
pirâmides organizacionais das empresas, tendo algumas delas alcançado uma
estrutura em forma de pirâmide invertida, pois a tecnologia veio revolucionar o
mercado de trabalho.
Actualmente,
verifica-se por toda a Europa um novo modelo que tem as seguintes
características:
- Existência de um núcleo duro de
indivíduos que são obrigatoriamente necessários e responsáveis da empresa, uma
vez que a aposta na tecnologia é fácil de igualar pelos rivais, logo, devem
apostar no capital humano, que é diferente de indivíduo para indivíduo, e isto
permitir-lhes-á obter uma vantagem comparativa.
- Os “operários” da empresa são pessoas com
contratos de curto prazo, com contratos temporários ou ligados a empresas que
prestam serviços especializados, como empresas de limpezas ou de segurança.
Este
novo modelo permite uma maior flexibilização do mercado de trabalho, através de
uma maior oferta de trabalho, que diminuirá os salários e permitirá baixar os
custos de produção das empresas e ao mesmo tempo aumenta as produtividades
destas devido à competição que existe por um emprego. Consequentemente,
aumentará a vantagem comparativa do país face a outros países, o que levará a
um aumento das exportações e permitirá a especialização desse país nas
indústrias que possuem este tipo de vantagens. Permitirá ainda diminuir o
desemprego de longo prazo.
Contudo
uma diminuição dos salários terá efeitos negativos sobre a procura interna, que
é o principal mecanismo de dinamismo de uma economia, porque está sempre
sujeita a choques externos como, por exemplo, a abertura ao mercado de uma
economia com uma mão-de-obra mais barata no mesmo tipo de indústria em que o
país está especializado.
Numa
perspectiva pessimista, o mercado doméstico teria efeitos nefastos sobre a
procura interna devido aos baixos salários e, sobre a procura externa, devido à
concorrência mais barata. Tudo isto, aliado à mobilização de trabalhadores e
empregadores que ocorreria para as indústrias especializadas implicaria uma
diminuição das suas rentabilidades, provocando até a insolvência de muitas
empresas, aumentando o número de desempregados e de pessoas em situação de
pobreza e de risco de sobrevivência. Dificultaria ainda, devido à falta de
fundos, o investimento noutras indústrias que possibilitariam o crescimento
económico. Em situação idêntica encontra-se Portugal, após a abertura de
mercados asiáticos, mais especificamente, a do mercado chinês.
Numa perspectiva optimista, o mercado nacional teria
alcançado com a especialização de várias indústrias uma vantagem absoluta a que
lhe permitia dominar esse nicho de mercado e assim obter rentabilidades muito
elevadas, gerando mais empregos e empregados e, consequentemente, teria efeitos
positivos sobre os salários, que por sua vez permitiria maior acesso a melhores
mercados e a mais educação, que possibilitaria maior inovação e desenvolvimento
– situação idêntica à que se verificou em Inglaterra após a Peste Negra – mas
com cuidados redobrados para que os outros países não pudessem usufruir desse
desenvolvimento que levaria ao fim da vantagem comparativa existente.
Em Portugal e na Europa em geral, tem-se vindo a adoptar
este modelo, que parece ser o mais eficaz e rentável para as empresas e para a
economia, que permite a flexibilização do mercado de trabalho, apesar de tornar
mais complicada a situação de empregabilidade para aqueles sem contratos de
médio/longo prazo. Parece ser esta a solução para alguns dos mais graves
problemas da economia portuguesa, que assenta na especialização de trabalho
pouco qualificado, intensivo, que comparando com países mais a leste têm
salários muito mais elevados, dando a ideia que a solução passa por baixar os
nossos salários mais baixos.
Sendo então
de lamentar que o processo de transição seja feito por necessidade e não naturalmente,
o que acaba por provocar uma situação de insustentabilidade para as famílias
portuguesas que vêem a austeridade “assaltar-lhes” as economias, que vêm
diminuindo face às condições económicas que se verificam como o elevado
desemprego, a diminuição dos subsídios e pensões e outras medidas que se vão
tomando, o que acarreta graves problemas de sobrevivência face ao custo de vida
existente.
Resta saber se o nosso futuro
ficará hipotecado ou se será promissor com estas medidas, mas um Nobel da
Economia, Paul Krugman, já veio dizer que é altura de a Europa pensar mais nas
pessoas, mas até que ponto será esta a melhor solução uma vez que esta também
pode hipotecar o nosso futuro.
Rui
Miguel Ribeiro Sampaio
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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