Como todos nós sabemos, a Europa encontra-se numa crise económica e financeira
sem precedentes na sua história. A principal razão desta crise reside no facto
da Europa ter perdido competitividade no mercado global pela entrada de novas
forças emergentes, como a China e o Japão, pelo que deixou de ser auto-suficiente
em termos económicos. A Europa, a pouco e pouco deixou de produzir riqueza
suficiente para suportar e manter o estado-social que ela própria criou. Por
outro lado, a criação da moeda única veio destabilizar as economias dos países
mais fracos, o que provocou ainda maiores desequilíbrios, que depois se
repercutiram em dificuldades económicas de alguns países, como por exemplo a
Grécia, Irlanda e Portugal.
Actualmente, a Europa está dividida entre 2 blocos: os países
que estão sob resgate financeiro e os países com maior poder financeiro, com
por exemplo França e Alemanha. Neste contexto, verifica-se a dependência dos
países resgatados em relação aos países
credores, que os “ajudam”, fazendo empréstimos com condições fortíssimas,
nomeadamente prazos curtos e taxas extremamente altas, sendo quase impossível
para esses países recuperarem a sua autonomia financeira sem denegrirem o seu
estado social.
Tem-se assistido todos os dias, nas mais variadas fontes de
informação, ao descontentamento generalizado dos povos dos países resgatados,
através de diversas manifestações, greves, etc., o que evidencia a necessidade
de se repensar a estratégia de apoio económico a estes países. O que é facto é
que estas “ajudas” em nada tem ajudado os países em dificuldade a impulsionar a
sua economia, mas antes deterioram as condições sociais já existentes, porque
para pagar essa ajuda, como os países não produzem riqueza, a única maneira que
os governos têm de aumentar as receitas é esmagarem os salários, pensões, etc,
e cortar na despesa publica, o que só piora a situação social e económica. Estes
países são caracterizados por elevadas taxas de desemprego, salários
relativamente baixos e preços de mercado altos. Ora, nestas condições, é uma
questão de tempo até esse país rebentar ou resultar numa revolução civil,
porque as pessoas, as famílias, as empresas, já não aguentam tanta austeridade.
Por esta crescente degradação das condições de vida nestes
países resgatados, é fundamental que a Europa repense estes modelos de resgate,
que não estão a dar resultado. Diz-se que a união faz a força e, de facto, a
força da Europa não está em nenhum país ou economia em concreto mas no conjunto
dos estados-membros e das suas economias, que constituem a Europa, e pelos
vistos os lideres europeus esqueceram-se disso.
Na minha opinião, a questão central prende-se com o facto
deste tipo de ajudas não estarem a ajudar os países, pelo contrário, só os
afundam mais. A ajuda que estes países realmente necessitam é que os ajudem a
impulsionar as suas economias, desenvolver indústrias, fazer com que os países
sejam atractivos externamente, que tenham capacidade de atrair o investimento
externo para começarem a produzir e a criar riqueza. Se não, vão estar sempre
nestas condições e dependentes financeiramente de outros países, e nenhum país
aguenta isso.
Para concluir, penso que a Europa, se quiser preservar a sua
identidade, os seus valores, os seus princípios e os seus estados-membros, terá
de se adaptar a esta nova realidade e terá de mudar de regras para poder, de
facto, ajudar convenientemente os seus estados-membros. Porque se a Europa
continua assim, sem conseguir auxiliar os estados em dificuldade, muito
provavelmente não os conseguirá manter dentro da zona euro e da própria U.E.,
porque nenhum país consegue estar sujeito a tanta austeridade, com tanta
pressão externamente. E se assim for, se por acaso, a Europa não consegue
impedir a saída de um qualquer estado-membro, por não conseguir suportar mais a
pressão interna e externa, penso que tal seja o princípio do fim da U.E.,
porque se a U.E. não conseguir ajudar um país, também não conseguirá ajudar os
outros, e outros seguirão pelo mesmo caminho da saída da U.E. e isso será catastrófico.
A única alternativa passa por uma maior compreensão do problema, maior
cooperação entre os estados-membros e maior união e coesão entre eles.
Nuno Maria Canelhas
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